Concordo plenamente.... filhos não pedem para nascer.... vale a pena a leitura e acho que a solução contra a crueldade aos animais é diminuir a espécie humana....
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HÁ MUITA DOR E SOFRIMENTO, por isso é um horror trazer novos seres humanos ao mundo"
David Benatar, 71 anos, se ouvisse de um furioso filho adolescente a célebre frase “Eu não pedi para nascer”, ao contrário da maioria dos pais, que tenta justificar-se, concordaria sem pestanejar e pediria desculpas por ter contribuído para trazer uma nova vida à luz.
Essa suposição - nem sei se ele tem filhos - decorre de sua declaração à BBC Brasil: “É um erro trazer novos seres humanos ao mundo”. Benatar é professor de Filosofia na Universidade de Cape Town (África do Sul), apresentado como o “filósofo mais pessimista do mundo” na entrevista a respeito de seu livro “Better never to have been” (“Melhor nunca ter existido”, em tradução livre).
De fato, as respostas que se podem dar a um adolescente em conflito violento com seus hormônios fincam-se no terreno da religião ou do egoísmo: o acatamento da ordem divina “crescei-vos e multiplicai-vos”; ou o desejo de ter um filho; ou ainda pela perspectiva dos pais em obter amparo na velhice. Pode-se ainda recorrer à lei da “conservação da espécie”, o apelo irresistível que leva os animais à cópula.
Mas isso equivaleria a comparar o homem a um bruto, que não consegue refletir sobre sua própria vida, de modo a controlá-la: ninguém é obrigado a ter filhos. Mas, talvez, a “conservação da espécie”, no caso dos humanos, se deva a um certo sentimento de onipotência, entendendo-se o Homo sapiens como a única justificativa para o surgimento da Terra. Para Benatar, há “muita dor e sofrimento na existência” e, por isso, torna-se “um horror” trazer novos seres humanos ao mundo.
Ele defende, inclusive, o aborto para evitar novos nascimentos. E o professor tem uma proposta para resolver o problema: o ser humano deveria deixar de procriar até a extinção. Uma amiga, a quem indiquei a leitura da entrevista, não se mostrou espantada com os argumentos de Benatar. Alguns autores, disse ela, se valem de polêmicas antigas, apresentando-as ruidosamente como se fossem novidades para promover seus livros.
Isso me fez lembrar os lamentos bíblicos de revolta pelos sofrimentos que a vida impõe a todos. Em pelo menos dois livros há trechos sugerindo abertamente ser o aborto melhor do que uma vida sem sentido. Eclesiastes 4, 2-3: “E julguei os mortos, que estão mortos, mais felizes que os vivos que ainda estão em vida. E mais felizes que uns e outros o aborto que não chegou à existência, aquele que não viu o mal que se comete debaixo do sol”. E ainda 6,3: “Um homem, embora crie cem filhos, viva numerosos anos e numerosos dias nesses anos, se não pôde fartar-se de felicidade e não tiver sepultura, eu digo que um aborto lhe é preferível”.
Jeremias também tem alguma coisa a dizer sobre o assunto, em 20, 14-18: “Maldito o dia em que nasci (...) Por que não me matou antes de eu sair do ventre materno? Minha mãe teria sido o meu túmulo e eu ficaria para sempre guardado em suas entranhas! Por que saí de seu seio? Para só contemplar tormentos e misérias, e na vergonha consumir meus dias?”
Claro que essas passagens rendem os mais ardorosos debates. A maioria dos crentes busca explicar essas palavras para além de sua interpretação mais óbvia: personagens em crise lamentando-se ao Criador que os condenou ao desamparo, a viver neste vale de lágrimas. O fato é que cada ser humano tem uma cruz a carregar. Ao se pôr na balança, o que pesará mais? As fugazes alegrias da vida ou as misérias que atingem a todos? Antinatalismo
O professor David Benatar faz parte de um movimento conhecido como “antinatalismo”, que propõe que o ser humano deixe de procriar até à extinção. Porém ele não acredita que a proposta tenha sucesso, pelo menos “em grande escala”. Gerações Respondendo à pergunta se a evolução do mundo não poderia levar a uma sociedade sem sofrimentos, Benatar responde que isso implicaria o sofrimento de muitas gerações. “E sacrificar gerações em nome do futuro parece algo indecente.”
FONTE:
opovo