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9/05/2018

Abater cães e gatos é mau? Sim, mas é necessário

É triste eutanasiar animais domésticos saudáveis? Com certeza que é. Há alguma alternativa viável enquanto não se mudarem as mentalidades? Tristemente, não.

É uma medida tão bonita. Os partidos até votaram todos a favor: deixar de abater cães e gatos saudáveis nos canis municipais não é, afinal, apenas uma forma de estender a nossa bondade e os nossos princípios humanistas a
seres vivos que nos dão tudo o que têm e partilham tantos momentos de alegria connosco? Infelizmente, não é. É apenas uma lei estúpida, que vai prejudicar os animais que deveria proteger.

Quando na política se substitui a cabeça pelo coração dá nisto – uma lei cheia de boas intenções mas impraticável vai certamente ter consequências dramáticas para os pobres bichos, que em vez de morrerem dignamente vão passar a perecer à fome, em condições de higiene lastimáveis, enjaulados ao monte ou abatidos à socapa. Os que escaparem a esse triste fim irão andar pelas ruas e campos ao abandono, formando matilhas que se multiplicarão pelo país até ao dia em que acontecer uma tragédia e alguém morrer vítima de um cão abandonado – e aí, os mesmos políticos que fizeram esta lei absurda irão a correr desfazê-la.

Caros amigos dos animais e votantes no PAN: poupem-me a indignações deslocadas. O que eu estou a dizer é que, neste caso concreto, a vossa vontade de proteger a vida de cães e gatos não os vai beneficiar, mas sim prejudicá-los. Como o mundo não é cor-de-rosa, a realidade não é a preto e branco, cães e gatos não têm predadores, e o dinheiro para construir canis e gatis é limitado, a lei que é suposto entrar em vigor a 23 de Setembro terá como consequência o aumento do sofrimento animal.

Isto não é uma questão de opinião, mas de matemática. O PÚBLICO tem vindo a acompanhar o caso e num texto intitulado “Fim do abate nos canis vai ser uma catástrofe” adiantava os seguintes números: no primeiro semestre de 2018 foram recolhidos 13.897 animais abandonados; desses, apenas 5300 foram adoptados. É fazer as contas: quase 8600 ficaram em canis e gatis – e isto em apenas seis meses. Mantendo-se o ritmo, num ano serão mais de 17 mil. Em seis anos ultrapassarão os 100 mil. E atenção: a progressão é muito superior a esta, porque quando falha a esterilização a velocidade a que nascem supera largamente a velocidade a que morrem. De que forma são estes números geríveis sem abate? Não são.

Sim, esse modelo de canis municipais marginalmente utilizados ou inexistentes existe já em muitos países, parcial ou quase completamente implementado. São as associações que fazem o "negócio" todo do abate, acolhimento, etc. Com dinheiro do Estado. Cá também há algumas: Cantinho de Viseu. Criaram clínica própria e ninguém sabe quantos animais recebem ao certo e quantos mantêm vivos.

Sim, eu sei que a culpa é dos donos dos animais. Num país impecavelmente civilizado, bastaria equilibrar o número de abandonos com o número de adopções para a eutanásia deixar de ser necessária. Infelizmente, não é ainda o caso de Portugal, e a natureza humana não se muda por decreto. O progresso na valorização dos direitos dos animais tem sido gigantesco, o que é óptimo, mas não se pode chegar ao ponto de legislar bons sentimentos fechando os olhos à exequibilidade das medidas que se propõem. Isso pura e simplesmente não é sério.

Vão, por favor, ao site da associação americana PETA, que anda desde 1980 a lutar pelo bem-estar animal, e leiam textos como “‘No-Kill’ Policies Slowly Killing Animals” ou “The Deadly Consequences of ‘No-Kill’ Policies”, para verem aquilo que nos espera se a lei começar a ser aplicada em Portugal. Está lá escrito: não matar é ainda mais mortífero. Se os abandonos são o triplo das adopções, e se o abate é proibido, a consequência será um crescimento descontrolado da população de cães e gatos, que a médio prazo é insustentável. É triste eutanasiar animais domésticos saudáveis? Com certeza que é. Há alguma alternativa viável enquanto não se mudarem as mentalidades? Tristemente, não.

FONTE: publico.pt

3 comentários:

  1. Programa de castracao gratuita resolveria o problema de super população. Castramóveis, que fossem nas regiões mais remotas realizar as castrações.

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  2. A natureza humana não se muda por decreto, mas se muda com educação, muita informação e propaganda no rádio, na TV, na internet e apor aí afora, afinal não é assim que os políticos fazem nas campanhas eleitorais?
    As alternativas viáveis ainda estão nas campanhas de castração, sob pena de multa pesada para os irresponsáveis que não o fizerem. É tudo questão de boa vontade.
    Vão fazer o mesmo com os humanos, quando houver uma super população mundial?

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  3. que maldade!! até qdo vão parar de matar ,maltrar , abandonar etc os animais que são seres vivos e tem alma sofrem como nós tb.nós não somos melhores que eles

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