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3/29/2018

'Não quero ser uma vegetariana chata', diz Yasmin Brunet

Gostei muito das respostas dela. A gente sabe que a repercussão deste tipo de matéria beneficia tanto a personalidade quanto a causa. Mas, é formidável quando alguém se propõe a assumir sua posição a favor dos animais....
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Yasmin Brunet é um fenômeno das redes sociais. Filha da modelo Luiza Brunet, ela desfila desde os 14 anos, mas foi com o Instagram que ficou conhecida pelo grande público - e não exatamente por causa de suas selfies e dos looks do dia. Com seus 1,7 milhão de seguidores, Yasmin compartilha sua dieta vegetariana, fala sobre a causa animal, feminismo, consumo consciente e estilo de vida saudável, sem muitas papas na língua. No lançamento da coleção de inverno da Hope, que ocorreu na loja da marca da Oscar Freire, ela fala sobre alimentação, veganismo, meio ambiente, preconceito e dispara: "No fundo, você sabe o que é certo e errado".

As pessoas têm muitas dúvidas quanto a isso. Você é vegetariana ou vegana?
Sou vegetariana. E não é uma dieta, não gosto quando as pessoas falam isso, é uma forma de alimentação consciente, que se importa não só com si mesmo mas também com o meio ambiente e com os animais. No Brasil, as pessoas não sabem muito a diferença. O veganismo é um estilo de vida no qual você não explora animais de nenhuma forma. Então o vegano não usa couro, não usa nenhum ingrediente de origem animal, não dá dinheiro para nenhuma marca que faz testes em animais. É muito maior do que deixar de comer coisas.

E porque você não é vegana? 
No momento, no meio em que eu estou inserida, é complicado virar vegana, porque isso envolve trabalhos e clientes, mas acredito que um dia vou virar. Para mim, as pessoas que são veganas são seres extremamente evoluídos, principalmente quando inseridas nesse meio, como a Luisa Mell. Quando eu virar vegana, vou morar no meio do mato.

Porque você acha que as pessoas ainda criticam muito o estilo de vida vegetariano?
Guerra de consciência. No fundo, você sabe o que é certo e errado, ninguém precisa te dizer. Quando alguém cutuca um hábito seu, que você tem a vida inteira, mas que você sabe que poderia fazer uma mudança, é uma guerra interna. Então ela ataca para não aceitar o que está sendo dito. Por um lado, entendo porque as pessoas fazem isso. Toda mudança é difícil, mas o ser humano se adapta a tudo.

Você sempre se identificou com a causa animal ou essa consciência foi crescendo em você?
Sempre comi todos os tipos de animais. Meu pai é argentino e na minha casa não podia ter frescura para comer. Eu comia pé de galinha, moela, pescoço, língua de boi... Consigo entender quem diz que não consegue virar vegetariano porque ama carne, porque eu comi minha vida inteira e gostava. Mas não se trata só do meu paladar. Na hora em que você faz a ligação de que aquilo que está no seu prato é a parte do corpo de um animal, você muda sua consciência. Eu não vejo mais comida naquilo.

Você está acompanhando esse movimento das marcas de luxo que estão parando de usar pele animal? Marcas como Gucci e Givenchy já aderiram.
É o futuro. As pessoas estão percebendo os impactos ambientais que causamos. Temos que parar agora e tentar reverter os estragos que fizemos com nossa casa. O ser humano é parte de tudo, não estamos excluídos do resto do ecossistema. Se você quiser entender melhor o que eu estou falando, assista ao filme Pocahontas e ouça a música que ela canta sobre as cores do vento. Tudo se completa. Se a gente não mudar a nossa mentalidade, não teremos para onde ir.

Outra bandeira que você faz questão de levantar nas redes sociais é de uma sociedade igualitária. Você é feminista?
Acho que toda mulher é feminista. Minha mãe sempre foi muito independente, nunca dependeu de homem nem de ninguém. Cresci com uma figura de mulher forte em casa, então para mim é uma coisa natural. Quero igualdade para tudo e todos. Deveríamos tratar os animais como iguais, assim como as mulheres e os homens, assim como as raças. Não tem diferença.

E você acha que tem um impacto no estilo de vida dos seus seguidores? 
Só hoje umas três pessoas me pararam para falar que viraram vegetarianas por minha causa. Acho surreal. Pra mim, vale muito mais alguém falar isso do que elogiar meu cabelo. Nunca pensei que pudesse influenciar alguém a ponto de interferir em um hábito que a pessoa pratica todo dia.

Mas você posta as coisas pensando que vai influenciar alguém?
Na minha cabeça, eu tenho que postar, mas não para influenciar, não consigo explicar. Acredito que quando você tenta mudar muito uma pessoa, é natural que ela resista. Na minha casa, por exemplo, todo mundo come carne. Eu tenho que respeitar, porque cada ser humano é um. Não quero ser uma vegetariana chata, que as pessoas acham que estou impondo os meus hábitos. Você não pode ter compaixão pelos animais sem ter empatia pelos outros [seres humanos].

Você tenta aplicar o estilo de vida vegetariano também em outras áreas da sua vida? 
Gosto de usar cosméticos naturais. Pesquiso muito. O Google é meu melhor amigo. Evito marcas que testam em animais e aqueles ingredientes que fazem mal. Tem alguns que até causam câncer! Eu já fui uma pessoa bem descuidada. Fumante, comia mal. Logo depois que parei de comer carne, parei de fumar. Estava tendo compaixão pelos animais mas não por mim. Depois disso, comecei a mudar tudo. O vegetarianismo é incrível porque abre uma porta que muda seu mundo inteiro, não é só deixar de comer carne.

E o óleo de coco? Você foi uma das responsáveis pela febre de usá-lo como cosmético. 
Eu acho isso muito engraçado! Eu amo o óleo de coco, mas aprendi que ele não funciona para todos os tipos de cabelo, tem alguns que ressecam com ele. E o óleo de coco também é comedogênico, ou seja, pode causar espinhas. É muito pessoal, tem que testar. Amo também o óleo de tamanu, o de argan, abacate... Ah, e o azeite de oliva extra virgem. Dá para passar na pele, no cabelo, nas cutículas, usar para tirar a maquiagem. Ele é o segredo das italianas.

FONTE: msn

3/13/2018

'Para as pessoas eu sou a chata, sou a louca', diz ativista Luisa Mell sobre defesa dos animais

A matéria fala o que acontece, exatamente: uns adoram Luisa Mell e outros a odeiam..... O preço que se paga para  representar uma causa, seja lá qual for, é sempre muito caro. Em proporção bem menor, claro, passei por tal situação. Durante algum tempo vivi na mídia e realizei muitas ações a favor dos animais. Eu era odiada pela própria proteção animal a ponto de roubarem tudo que eu realizei e que foi jogado fora por pura incompetência das pessoas que me roubaram.... Só posso dizer que não é mole..... é uma cobrança inadmissível já que todos deveriam lutar pela causa, cada um em sua  possibilidade, certo?
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Luisa Mell, 39, ainda se emociona ao falar de bichos, sejam os maltratados, os abandonados, os resgatados ou os adotados. Mas muito mudou desde que seu programa "Late Show", exibido durante seis anos na Rede TV!, foi encerrado em 2008. Afastar-se da televisão --onde ficou conhecida pelas denúncias e pelo choro fácil nas tardes de domingo-- fez com que se aproximasse do ativismo, tornando-se hoje um dos principais rostos da causa contra os maus-tratos de animais no Brasil."Sou a ativista [de defesa animal] mais famosa do país. Para o bem e para o mal. Recebo aplausos por algo que muito mais gente realizou, mas também fica nas minhas costas quando querem apedrejar, perseguir, processar"

Algumas coisas continuam iguais. Ao expor --agora não em uma rede de TV, mas nas redes sociais-- canis, institutos de pesquisa, embarcações de carga viva, a origem das plumas usadas no Carnaval e exposições de animais, entre outros casos, Luisa se mantém envolvida em polêmicas, gerando opiniões e sentimentos extremistas em relação a ela e àquilo que defende. Alguns a idolatram. A cantora Rita Lee, que sobe a voz ao falar de rodeios, descreve Luisa como "nossa Brigitte Bardot tropical: bela, inteligente e amante dos bichos" e "moderna princesa Isabel dos animais".

Outros a desmerecem. Para isso, evocam a imagem de chorona ou adotam o tom de "não faz mais que a obrigação", por ser considerada rica, famosa e ter privilégios em sua trajetória. Entre eles o namoro de cinco anos com Amilcare Dallevo, coproprietário e chefão da Rede TV!, que permitiu a uma jovem de 20 e poucos anos dar o tom de seu próprio programa, durante uma "guerra" da TV aberta aos domingos. Por fim, há a turma dos xingamentos e, em casos ainda mais extremos, das ameaças.
"É muito difícil ser ativista, porque você enxerga o mundo de maneira totalmente diferente. Para as pessoas eu sou a chata, sou a louca. Mas o mundo muda muito lentamente para o ativista: quem sofre [os animais] tem pressa"

Em entrevista ao UOL, ela falou abertamente sobre esses temas e sobre a sua vida de ativista. Antes de entrar nessa história --e para saber de quem realmente estamos falando--, deixemos claros dois pontos.

Primeiro: o Instituto Luisa Mell não leva seu nome de batismo (Marina Zatz de Camargo), mas sim o artístico, criado em 2001. O intuito do pseudônimo era não se queimar com um quadro no programa de sexo "Noite Afora". O segundo ponto, em suas próprias palavras: "Muita gente ainda acha que sou apresentadora, mesmo estando afastada da TV há anos. Meu trabalho vai muito além disso hoje em dia. Sou ativista, sou protetora dos animais, sou presidente do instituto", explica ela, formada em direito. Dito isso, vamos em frente. "Vivemos em um mundo onde os animais são escravos, são vistos como objetos com os quais se pode fazer qualquer coisa. Eles são massacrados em nome do entretenimento, da comida, da indústria de vestuário, médica, de cosméticos "

Esfregando os maus-tratos animais na sua cara
Luisa Mell recebeu a reportagem em seu instituto numa tarde chuvosa, no começo de março. Tênis, regata e calça jeans davam o tom despojado, mesmo com maquiagem e cabelo arrumado. Levou aos voluntários e funcionários duas caixas de doces veganos --dieta seguida por ela desde 2013--, que havia servido no aniversário de três anos de Enzo, seu filho com o empresário Gilberto Zaborowsky, com quem se casou em 2011.

Levou também para eles exemplares de sua autobiografia "Como os Animais Salvaram Minha Vida" (Globo Livros), fazendo dedicatória a quem pediu, e insistiu que todos fossem à noite de autógrafos dali a alguns dias. Orgulha-se ao apresentar o local, dando detalhes sobre as instalações, os tratamentos oferecidos e os animais por lá instalados --ela sabe os nomes de muitos e também as histórias de maus-tratos que os levaram até ali.

Em duas horas de conversa, Luisa se emocionou algumas vezes. Poucas. No geral, o que se vê é uma mulher firme, com objetivos definidos, que usa todas as oportunidades --surgidas ao acaso ou mesmo criadas por ela-- para defender a causa na qual acredita.

Exemplo disso é o que fez à frente do "Late Show", programa idealizado por seu pai, redator e roteirista de TV, e exibido na emissora do então namorado.

"Viram ali uma oportunidade comercial. O mercado pet crescia muito no Brasil, então a atração poderia ter bons anunciantes", explica em seu livro. O projeto inicial propunha abordar a relação dos homens com os animais e levantar a bandeira dos vira-latas, mas não previa, da maneira enfática como foi feita, chamar a atenção para os maus-tratos --causa com a qual Luisa ainda estava pouco familiarizada. Conforme foi conhecendo este universo, achou que o caminho era falar sobre o problema. "Eu conseguia fazer coisas absurdas, que nenhuma emissora permitiria", lembra. "Eu acreditava que era importante esfregar aquilo na cara das pessoas e não me envergonho nem um pouco de ter usado isso [os privilégios de primeira-dama do canal de TV] pelos animais"

O novo status do vira-lata
A projeção trouxe polêmica, brigas --"tem gente que quer eu eu morra, suma do mapa"--, algumas vitórias e outras tantas derrotas. "Luto por muitas causas, a maioria eu perco [como o embarque em Santos de 25 mil bois vivos para a Turquia], mas posso dizer que a da adoção é uma conquista de vida. Quando adotei minha primeira vira-lata, antes do programa, saía na rua e as pessoas praticamente me xingavam. Hoje ninguém mais tem coragem de fazer isso", conta ela, que divide a casa com dois cachorros adotados.

Nessa trajetória, reconhece como principal erro a forma com a qual tentava impor sua opinião. "Eu era muito impulsiva, agressiva, brigava e não entendia como as pessoas não entendiam o que eu queria falar. Vou fazer um programa para salvar os animais e colocar um macaco fantasiado no palco? Eu era grossa, não tinha tato." Hoje se diz mais tolerante, reconhece que a mudança pode ser lenta e cada um tem seu tempo. "Até outro dia eu fazia tudo errado, até mesmo essas coisas que eu condeno hoje", diz.

A adoção e mudança no status do vira-lata --associadas ao boicote de canis que lucram com venda de animais de raça-- estão entre suas principais bandeiras, assim como a proibição de animais de circo (ainda sem lei específica) e o fim da eutanásia para animais sadios no Estado de São Paulo. "Sou ativista em todos os momentos, todos os lugares, todas as situações. Para se tornar um ativista, é só começar. O primeiro passo é você sentir, se indignar, saber que pode começar sendo a mudança. O ativista faz qualquer coisa para mudar uma situação"

O resultado mais concreto disso --aqui no sentido literal-- foi a criação, em 2015, de um instituto na Grande São Paulo para resgate de animais feridos ou em situação de risco, que são recuperados e adotados. Até o início de março, 2.094 cães e gatos haviam sido doados, principalmente via feiras de adoção.

O terreno com 27 mil metros quadrados de área verde tem hospital veterinário, enfermaria, ala de quarentena, espaço de soltura (para os bichos passearem livres), gatis e canis. A ocupação fica na média dos 350 bichos, e o intuito é não crescer mais que isso por causa dos gastos: além da estrutura, há seis veterinários, sete enfermeiros e nove tratadores. 

O terreno foi emprestado, durante um período dez anos, por uma conhecida de Luisa. Tudo lá é financiado com doações e vendas online de camisetas, principalmente aquelas com a mensagem #adotei (marca que remete ao instituto). "A gente só consegue manter isso porque as pessoas confiam em nosso trabalho e ajudam."

Questionada sobre como se mantém, considerando que sua principal atividade é o ativismo, ela responde: "As contas bancárias são totalmente separadas. Uma é a do instituto, outra é a da Luisa Mell. Não pego R$ 1, assim como toda a diretoria, formada por voluntários que têm outras ocupações. Tenho em meu nome dois escritórios alugados e um marido com boa condição financeira, que sustenta nossa casa. Não tenho a menor vergonha de dizer isso, porque ele respeita muito o meu trabalho".

Ativista com cara, nome e sobrenome
A mesma fama que ajuda a encontrar donos para os animais faz com que os pedidos de ajuda não parem de chegar. "As pessoas veem um cachorro na rua e ligam para mim, descobrem meu celular, mandam email. Chega tanta coisa que não consigo dar conta e muitos ficam frustrados comigo. Como temos o hospital, nossa prioridade é pegar os bichos em pior estado", explica.

Os casos mais polêmicos em que se envolveu foram o resgate de beagles usados para testes no Instituto Royal, em São Roque (SP), e de 135 cachorros de diferentes raças, em um canil de Osasco (SP) --nos dois casos, todos os sobreviventes foram adotados.

Diz não se arrepender de nenhuma das invasões, a segunda delas feita com ajuda da polícia, e afirma que os episódios chamaram a atenção para diferentes temas: testes em animais e maus-tratos em canis. Inclusive a cadelas chamadas de matrizes, que passam a vida dando à luz filhotes para comercialização.

"No caso do Royal [fechado após a invasão], tive de ir à delegacia prestar depoimento, mas a história não foi para a frente: tinha muito rolo ali. Já o dono do canil não me processou, mas muitos dos criadores se sentiram ameaçados com a revelação dos bastidores de seu negócio. Toda vez que acontece algo assim, as pessoas atingidas me xingam, fazem campanha, tentam me difamar, inventam coisas sobre mim."

Luisa diz ter diversos processos e também medo de alguma represália, justamente por ser conhecida: um alvo mais fácil. Ela lembra que, na invasão do Instituto Royal, queria voltar e pegar mais beagles quando foi advertida por um amigo: "Ninguém aqui é famoso, não dá para saber seus nomes. Você é a única ativista com cara, nome e sobrenome. Vai embora".

Muitas vezes suas ações têm ajuda da polícia e dos órgãos como Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e polícia ambiental --estes dois foram com ela ao shopping Eldorado (SP), no final de fevereiro, após denúncias de maus-tratos de quatro corujas na exposição "Casa dos Bruxos", em homenagem à saga Harry Potter.

"Antes eu tivesse esse poder que as pessoas atribuem a mim: de conseguir acabar com algo que eu não concordo. Mas eu não tenho. Existe uma legislação, uma Constituição e temos de fazer valer as leis. Chamei os órgãos responsáveis e, como estavam irregulares, a exposição teve de deixar de usar as corujas." Segundo ela, em muitos casos a própria polícia aciona o instituto por não ter o que fazer com os animais em situações de risco. "Fazemos um trabalho que o Estado é incompetente para fazer, pois não há estrutura para eles resgatarem e cuidarem de bichos. Há situações em que fazemos parceria: a polícia faz o trabalho dela e nós ficamos responsáveis pelos animais resgatados"

Em ano de eleição, o final da entrevista ficou reservado para a pergunta sobre a possibilidade de ela se candidatar. Caso isso venha a acontecer, não deve ser em 2018. "Seu eu entrasse para a política e conseguisse mudar tudo o que quero, entraria amanhã. Mas não é por aí. Então sou mais eficiente fora, cobrando quem está dentro. Funciona melhor, acho que é este o meu caminho."

FONTE: Uol

12/17/2017

“Ainda há crianças que não sabem que os animais podem sentir dor”

A entrevista foi feita com um veterinário lá em Portugal e achei muito apropriada.... bem interessante....
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Continuamos a maltratar, a desrespeitar e a taxar duramente a saúde dos nossos animais, quando na verdade eles só nos dão amor em troca, avisa Luís Montenegro, diretor clínico do Hospital Veterinário Montenegro, no Porto.


No Dia Internacional dos Direitos dos Animais, ainda há muito caminho a percorrer. Mas tudo indica estarmos no caminho certo.

Houve uma série de alterações significativas em 2017, nomeadamente o facto de os animais terem deixado de ser considerados coisas. Estamos no bom caminho?

Sim, mas importa lembrar que isto que se conseguiu em 2017 é fruto de um trabalho de sensibilização de décadas, do qual resultou que a sociedade fosse exigindo aos políticos que tomassem medidas para estabelecer que os animais também têm direitos e sentimentos, experimentam dor. Não são propriedade nossa. Merecem ser tratados com dignidade e afeto. E nós temos de respeitá-los na justa medida, por isso acho que estamos no caminho certo.


Ao nível do que de melhor se faz lá fora?
Tirando alguns fatores culturais que nos fazem ser diferentes de outros países e até ter outras formas de nos relacionarmos com os animais, no cômputo geral parece-me que também estamos na vanguarda, sabe? Não podemos dizer que só lá fora é que se faz tudo bem, porque não é verdade. Estamos a aproximar-nos. Nos últimos anos demos saltos qualitativos que nos colocam ao mesmo nível numa série de temáticas. Eu diria que estamos no caminho certo em relação ao que se faz pela Europa fora. Agora importa é estarmos sensíveis para que estas leis amadureçam e tenham aplicabilidade.

Por fatores culturais refere-se às touradas?
Refiro, se bem que mesmo elas já não encontram grandes aficionados junto das camadas mais jovens, pelo que irão acabar por desaparecer de forma natural. Inclusive, muitas das pessoas que defendiam as touradas gostam de animais. Vinham era com uma série de ideias feitas, incutidas durante anos pela sociedade e a cultura, que as levava a achar que aquilo não era fazer mal aos animais. Mas a situação está a evoluir positivamente: há cada vez menos aficionados, menos interesse. A médio prazo, de forma gradual, acredito que as touradas têm os dias contados.

E em que ponto fica a morte de animais para alimentação? Também é uma forma de exploração a ser combatida, como as outras?
Isso preocupa-me muito, confesso. Da mesma forma que houve várias situações que melhoraram e ganharam uma visibilidade que as beneficia junto da opinião pública, no caso dos animais de produção julgo estar a haver um retrocesso que faz com que possam estar a viver pior agora do que há umas décadas. E não só em Portugal. A questão coloca-se em todo o mundo civilizado. Sem cair em fundamentalismos, era importante ir incutindo a ideia de que estes animais também merecem melhores condições.

Devíamos fazer muito mais pelos animais de produção. Sentem a dor como os outros.

Enquanto consumidores, queremos é comprar um frango muito barato…
Ou uns bifes de porco a baixo custo, nem mais! Comemos demasiada proteína animal e não pensamos que o facto de nos chegar a esse preço implica que nasçam num sítio confinado, sejam tratados para terem um crescimento rápido e mal vejam a luz do dia antes de entrarem no circuito da comercialização e nos caírem no prato. Devíamos fazer muito mais por estes animais. Sentem a dor como os outros. Além de que se essa carne de consumo fosse criada em ambientes naturais, seria mais saudável também para nós. Mais: animais em pastoreio asseguram a manutenção e limpeza dos espaços florestais e agrícolas, reduzindo largamente o risco de incêndios.


Como se consegue que todos percebam que eles têm direitos como nós, a serem respeitados como os nossos, quando ainda há quem atente contra o direito de outros seres humanos à vida, à liberdade, à integridade corporal?
Haver uma lei que criminaliza os maus-tratos faz com que as pessoas pensem duas vezes antes de maltratar, por aí já é bom. Depois cabe-nos educar a sociedade começando por sensibilizar as camadas jovens, porque fazendo-lhes chegar a mensagem são elas que à noite, ao jantar, vão transmiti-la à família e aos adultos de uma forma que nós não conseguiríamos. Temos um programa de ação junto das escolas, na zona do Grande Porto, em que estamos disponíveis para ir a qualquer uma explicar a necessidade de se tratar bem os animais. Por incrível que pareça, ainda há crianças que não sabem que um cão pode sentir dor, então atiram-no do primeiro andar para ver o que acontece.

Cuidamos melhor daquilo que conhecemos?
Em regra sim, razão por que apostamos muito na formação escolar. A 24 e 25 de fevereiro de 2018 teremos ainda o XIV Congresso Hospital Veterinário Montenegro, no Europarque, em Santa Maria da Feira, com uma novidade: uma sala de formação, destinada essencialmente a bombeiros e socorristas, gratuita para quem tem carteira de bombeiro, que visa responder às muitas corporações que nos pedem ajuda para saber como devem recolher os animais em segurança quando são chamadas. Este ano houve os incêndios, mas todos os dias são atropelados animais que não podem ficar a sofrer na via pública, abandonados. E para isso é preciso dar formação, porque falar é fácil. Depois é preciso fazer.

Que mudanças estão também por fazer ao nível dos apoios à saúde animal por parte do Estado?
Este governo já propôs, e bem, uma medida que pode ser um sinal de que as coisas estão a mudar, que é as pessoas poderem deduzir no IRS 15 por cento do IVA gasto com a saúde dos seus animais. Claro que isto é apenas um rebuçado. Entrará no mesmo pacote em que pomos as faturas do cabeleireiro ou do mecânico.


Não deixando de ser positiva, vai dar muito pouco na conta final…
A saúde tem cada vez mais que ser uma só, a exemplo do que acontece noutros países: é impossível haver humanos com saúde se as pessoas não puderem garantir que os animais a têm. E nós ainda somos dos que taxamos a saúde dos nossos animais a 23 por cento quando a medicina humana não está sujeita a IVA. É algo que devia ser pensado muito a sério, tanto mais que se trata de saúde. De saúde pública.

As coisas estão a evoluir favoravelmente de forma muito acelerada.

O que se responde a alguém que diz que não quer saber dos direitos dos animais quando há tantas crianças a morrer de fome em África? É que há quem o diga, de facto.
A única resposta possível é que uma coisa não tira lugar à outra, nem ninguém está a tentar inverter a ordem de prioridades. Queremos, sim, que a sociedade deixe de praticar atos gratuitos de malvadez contra os nossos animais, sobretudo se os maltrata porque, até há uns tempos, era quase cultural atirar-se uma pedra a um gato ou dar pontapés a um cão. Ninguém aqui defende que toda a gente deva ter um animal, muito menos quem não os quer: essa é uma opção individual. Na dúvida, não sabendo se a família está preparada, é melhor não ter. Outra coisa bem diferente é fazer-lhes mal, e ainda por cima fazer-lhes mal sem motivo.

Mais de cinco mil queixas por maus-tratos a animais em 2016 são números vergonhosos. O que é que isto diz de nós enquanto sociedade? Enquanto seres humanos?
É terrível, porém tais números também significam que já há uma parte significativa da sociedade mais amadurecida nesta temática, que está atenta e denuncia. Vindo eu de um meio rural, ainda me lembro de que há duas décadas as pessoas consideravam um desperdício gastar dinheiro com a saúde dos seus animais, e agora não é assim. Mesmo aquelas famílias que não têm animais, se virem um cão fechado numa varanda, à fome, maltratado, denunciam. Existe uma crítica social positiva sobre a questão dos maus-tratos e a premência de se proteger os animais. As coisas estão a evoluir favoravelmente de forma muito acelerada.

O problema dos defensores dos animais é serem muito extremistas. Perdem a razão por isso.

Ser veterinário é mais do que tratar cães e gatos, passa muito por saber tratar também os donos. O que tem vindo a mudar no modo como encaramos os animais em Portugal nos últimos anos?
São família. Para nós, humanos, que integramos o animal da nossa família e o amamos, o mais difícil é justamente assimilar que o tempo de vida do animal é tão curto em relação ao nosso. Os avanços na medicina veterinária aumentaram-lhes a esperança média de vida para cerca de 15 anos, mas um dia vamos ter se saber parar. Um dia vai ser o fim. E custa-nos muito a perceber que, apesar de lhes termos dado tudo, de termos posto todos os recursos ao serviço deles, o normal vai ser nós termos várias gerações de animais ao longo da nossa vida.

O artigo 4º da Declaração Universal dos Direitos do Animal proclamada pela UNESCO afirma que «toda a privação de liberdade, incluindo aquela que tenha fins educativos, é contrária a este direito». Onde ficam os jardins zoológicos no meio disto?
Acho que temos de ser ponderados. Andar por aí a querer fechar os zoos seria fundamentalista, e o problema dos defensores dos animais é serem muito extremistas. Perdem a razão por isso. Se não fossem os zoos, muitos de nós não fariam ideia do que é um animal selvagem. Muitas espécies estariam extintas. Além de que, hoje em dia, os jardins zoológicos estão a mudar de formato e já não têm todas as espécies, apenas as que se adequam melhor ao clima de cada país. Eu seria moderado: ajudaria a que os zoos pudessem ter mais espaço e condições para os animais se sentirem adaptados. Na Alemanha, se calhar, é descabido ter animais de climas africanos, tal como em Lisboa não farão sentido ursos-polares. Há que agir com cautela ou corremos o risco de não os ajudarmos de todo.


O que é que os animais nos ensinam?
Ensinam-nos todos aqueles princípios essenciais que a sociedade capitalista em que vivemos, sempre a acenar-nos com a cenoura do dinheiro, nos tirou. Ensinam-nos a partilha, a lealdade, a convivência em harmonia. Ensinam-nos a respeitar sentimentos, o amor incondicional. No fundo, devolvem-nos aos princípios mais básicos que nos trazem felicidade e nos fazem ser, de novo, pessoas completas. Tornamo-nos gente melhor graças a eles.

FONTE: noticiasmagazine

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