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5/09/2019

Pensão para pets e combate à venda mostram futuro da proteção animal

Discussões para aprimoramento na legislação visam garantir qualidade de vida aos animais e atender às novas e crescentes demandas da sociedade

Faz pouco mais de duas décadas que os animais de estimação começaram a deixar os quintais para ocupar um espaço importante dentro das famílias - ganhando, não raras vezes, não apenas afeto e mimos, mas até mesmo um espaço na
cama de seus tutores. O acelerado estreitamento da relação entre estes bichinhos e os humanos vem gerando debates sobre como as leis devem ser aprimoradas para garantir maior proteção animal e, por consequência, atender às novas e crescentes demandas da sociedade.

Segundo especialistas na área, a expectativa é de que, em um futuro não tão distante, a legislação contemple até mesmo a guarda compartilhada e o pagamento de pensão alimentícia quando casais, tutores de pets, decidem não viver mais juntos. A mudança se faz necessária diante das milhares de ações judiciais que tratam do assunto, prova irrefutável do valor que os bichinhos de estimação alcançaram para a humanidade.

Outra iniciativa, já em discussão no Senado, visa proibir o comércio indiscriminado de animais de estimação em locais públicos e fora de lojas autorizadas, sob pena de responsabilização por crime ambiental. São medidas que refletem uma tendência cada vez mais forte de "humanizar" a forma de tratar os animais e que apontam para o futuro da relação entre as pessoas e seus pets, conforme analisa a ativista Thaís Viotto, presidente da Comissão de Defesa e Proteção Animal da OAB Bauru e do Conselho Municipal de Proteção e Defesa dos Animais (Comupda).

"Muitos animais domésticos são tratados, hoje, como verdadeiros entes da família. É uma profunda mudança que está em curso na sociedade e que precisa ser amparada pela legislação, como já estão fazendo, em estágio mais avançado, países como França, Suíça e Portugal", pontua.

Outro projeto de lei também em tramitação no Senado é o que cria o Estatuto dos Animais, que, entre várias mudanças, pretende aumentar a pena por maus-tratos, de três meses a um ano para um a dois anos de reclusão. Apresentado pelo ex-senador Marcelo Crivella em 2015 e com texto já totalmente modificado em relação ao original, ele ainda enfrenta resistência de alguns setores porque abrange todos os animais, inclusive os destinados ao abate.

Neste sentido, há preocupação sobre os impactos econômicos e sobre insegurança jurídica para o setor agropecuário diante da aprovação da proposta, que prevê, por exemplo, a garantia de "inexistência de ansiedade, medo, estresse ou angústia" dos animais, sentimentos que podem ser de difícil mensuração. O texto ainda segue em discussão na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE).

Thaís destaca que outro projeto de lei, aprovado por comissões da Câmara dos Deputados e que aguarda apreciação do Senado, pode abrir um caminho importante para a aprovação de novas normas que garantam maior proteção aos animais. A proposta visa mudar o artigo 82 do Código Civil e transformar a natureza jurídica dos bichos - de bens móveis, ou seja, coisas; para seres sencientes, que têm capacidade de sofrer e, portanto, deveriam ser considerados sujeitos de direitos.

Compra e venda de animais: uma prática sob polêmica no Brasil

É fato que o mercado pet movimenta uma verdadeira fortuna no País - uma estimativa de R$ 18 bilhões por ano - e resiste mesmo em meio à crise. Hoje, a cartela de opções para agradar os bichinhos e seus tutores é vasta, incluindo padarias especializadas, buffets para a comemoração de aniversários e planos de saúde que oferecem tratamentos até com o uso de células-tronco, além de uma infinidade de outros itens, como canal de TV a cabo com conteúdo exclusivo para "telespectadores pet" e até joias que chegam à cifra de milhões de reais.

Se, por um lado, toda esta indústria não tem do que reclamar, criadores de animais de raça estão sendo cada vez mais pressionados por uma forte corrente que tem defendido a priorização da adoção de pets abandonados, sob o argumento de que bichos não podem mais ser tratados como mercadorias. "A existência deste mercado é uma contradição que, acredito, será superada um dia. Vejo que o movimento pela adoção vem ganhando força e as pessoas, ganhando consciência", defende Thaís Viotto.

Os números do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) de Bauru não apontam para esta tendência, mas o veterinário Luiz Ricardo Paes de Barros Cortez, diretor da Divisão de Vigilância Ambiental, explica. "A queda no volume de adoções ao longo dos anos foi motivada pela definição de critérios mais rigorosos para receber estes animais. O dono não pode mais abandonar um animal no CCZ, como acontecia antes. Houve redução no número de animais abrigados e, portanto, também de encaminhados à adoção", argumenta.

No ano passado, 186 cães e 62 gatos foram adotados em campanhas promovidas pelo CCZ em Bauru. Para se ter uma ideia, seis anos antes, em 2012, o número havia sido de 730 cães e 452 gatos. Em 2015, o volume já havia caído para 249 cães e 166 gatos.

Em consonância com o movimento que defende o fim da comercialização de pets, uma das maiores redes de pet shop do País anunciou o fim da venda de filhotes em suas lojas em fevereiro deste ano, após denúncias de maus-tratos em um grande canil do Estado de São Paulo, que fornecia animais para a empresa. Com a decisão, o espaço anteriormente utilizado para a venda de animais foi destinado a eventos de adoção promovidos por ONGs e protetores independentes.

E quando os tutores se separam?

No Congresso, há vários projetos da causa animal em tramitação, como o do deputado federal Rodrigo Agostinho, que apresentou, no início do ano, projeto de lei que visa estabelecer critérios sobre a guarda de animais de estimação, nos casos de separação litigiosa entre casais. A proposta tem iniciativa conjunta com o deputado mineiro Fred Costa e foi motivada pela existência de mais de 100 mil ações judiciais no País que tratam da disputa por animais em razão de separação de tutores.

Segundo Thaís Viotto, também há demanda crescente pela criação de legislação que possa pacificar a jurisprudência criada por decisões já tomadas pelos tribunais sobre o pagamento de pensão alimentícia para animais de estimação. Há um exemplo recente, do ano passado, no Rio de Janeiro, em que a Justiça determinou que o ex-companheiro de uma mulher ajudasse com as despesas de seis cães e um gato adquiridos pelo casal. O valor estipulado: R$ 1.050,00 mensais

Basta um abanar de cauda e aquele infalível olhar pidão para qualquer pessoa, por mais durona que seja, ser tomada por uma onda de bons sentimentos quando está perto de um cão. Ainda que "o melhor amigo do homem" lidere a lista de pets no Brasil, gatos, aves, pequenos mamíferos e até mesmo répteis também têm espaço garantido no coração de muitas famílias.

Em uma sociedade cada vez mais competitiva, os animais têm funcionado como uma espécie de contraponto, ao oferecerem companhia e amor incondicional, sem cobranças ou julgamentos. Processo de um convívio milenar, os vínculos estabelecidos com os pets se tornaram tão fortes ao longo do tempo que inúmeras pesquisas já comprovaram seus benefícios para a saúde física e mental dos seres humanos.

Um estudo da Universidade de Azabu, no Japão, demonstrou até mesmo que a troca de olhares entre o cachorro e seu tutor dispara, em ambos, níveis de oxitocina no cérebro, hormônio relacionado à conduta paternal e maternal e importante para o reconhecimento de vínculos sociais, assim como para a formação de relações de confiança.

CONVIVÊNCIA

A jornalista Thays Gomes, 26 anos, sabe bem como funcionam estes laços de convivência. Dona da pug Annie, ela cresceu cercada de animais, inclusive da tartaruga Zum, que tem aproximadamente 20 anos. "Tive muitos cachorros, mas a relação com a Annie é diferente. Ela é muito parceira e tê-la por perto é realmente especial", destaca.

Já na casa da família Cabrini, por exemplo, a lhasa apso Flora e a shih-tzu Cacau dividem o espaço interno da casa com o marido e os três filhos, de 19, 14 e 11 anos, da comerciante Priscila Cabrini, 46 anos. "Elas são tratadas como se fossem as caçulas da família. Dou bom dia e boa noite e até as chamo de filhas. Sentam no sofá com a gente para assistir TV e, sempre que chove, deixo as duas dormirem no meu quarto, porque elas têm medo", conta.

Priscila conta que quando a Flora chegou na família, ainda filhote, seu filho mais novo, Pedro, hoje com 11 anos, tinha nove meses na época. "Foi meio loucura porque eram praticamente dois bebês. Mas eu sempre quis ter mais de um cachorro. Acho importante ensinar os filhos, desde criança, a respeitar e cuidar dos animais. E elas são uns amores e muito companheiras de todos nós", lembra Priscila.

FONTE: jcnet

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