Conheça histórias de crianças que aprenderam a socializar melhor desde que o convívio com os animais foi introduzido nas suas vidas.
Quem ama os animais sempre tem histórias de carinho, amor e cumplicidade com eles. Os pets oferecem amor gratuito e se tornam parte integrante das famílias, e como tal, muitas vezes ajudam as pessoas das mais diversas formas.
Um dos casos em que animais podem ser muito úteis é na socialização de pessoas com autismo. O autismo é definido como o desenvolvimento anormal ou comprometimento da criança, manifesto antes dos três anos, apresentando caraterísticas desse funcionamento anormal na interação social, na comunicação e no comportamento, que se torna repetitivo.
O combate a essa dificuldade na interação social, pode ter os animais como grandes companheiros. "Existem diversos estudos acadêmicos, relacionados ao comportamento das crianças autistas quando tem alguma interação com os animais. Geralmente cães e cavalos”, explicou a veterinária, Mireille Sabbagh.
“Os cavalos eles auxiliam na interação e no reestabelecimento dessas crianças, além de melhorar a comunicação, o convívio social e a consciência cognitiva e sensorial dessas crianças. Com os cães, foi concluído que também atua na auto-confiançae torna a criança mais sociável e interativa com o mundo a sua volta. Então melhora bastante a capacidade de comunicação”, completou.
O dia a dia de atendimento é uma prova dos benefícios que os animais trazem nessas relações. “Na clínica eu vejo dos pais que adquiram um cachorro para criança autista, eles me relatam exatamente isso, que a criança ficou menos ansiosa, melhorou a comunicação, teve menos episódio de crise, e aumentou a confiança, a responsabilidade com outro ser”, relatou Mireille.
Enzo e Kim
O Enzo tem 16 anos. Ele tem o grau mais severo do autismo. Com isso, a interação social sempre foi difícil para ele. Em dezembro, a família resgatou o cachorrinho Joaquim, ou Kim, como é chamado. A partir daí uma relação diferente começou a ser estabelecida entre os dois.
“Encontramos o Kim na porta do nosso condomínio. Estava muito assustado, com medo, frio e fome. Foi no dia 9 de dezembro, na noite de um domingo. Chovia muito nesse dia”, contou Bruna Lages, mãe do Enzo.
“A relação foi construída aos poucos, até por quê meu filho possui o autismo no grau mais severo do transtorno. Enzo não emite uma só palavra, se esquiva de contato físico e outras interações. Por outro lado, Kim encontrava-se traumatizado pelos dias que passou na rua: estava arisco, assustado, desconfiado de tudo e todos. Chorou por semanas, como se procurasse encontrar alguém que um dia o amou. A cada dia que passava, fomos percebendo que os dois estavam se aproximando... Enzo compreendeu a existência do kim e começou a dar sentindo a essa presença”, relatou Bruna.
A mãe credita ao Kim, a evolução em vários aspectos na vida de Enzo, entre elas a interação com a própria família. “Eles tem uma incrível amizade, uma mistura de amor, cumplicidade e fidelidade, surgiu entre Kim e Enzo. Hoje, ninguém pode pegar os brinquedos do meu filho pois corre o risco de ser mordido... se alguém se aproxima de maneira brusca do Enzo, nosso Kim avança a fim de defendê-lo. Constantemente somos surpreendidos por gargalhadas vindas do Enzo em direção ao Kim. A relação entre os dois é carinhosa e livre. O contato se desenvolve de forma natural. Percebi que meu filho interage muito mais quando está ao lado do Kim. Também foi notória a redução do nível de ansiedade e estresse. Em alguns momentos, brincamos de pique pega onde Enzo, Manu [irmã mais nova de Enzo], Kim e eu brincamos pela casa. Esses momentos são criados de acordo com o humor e disposição do meu filho mas, sem dúvida que, a presença do Kim promoveu muito mais interação. Esse cãozinho foi capaz de aproximar mais ainda nosso filho do restante da família”.
A mãe de Enzo recomenda para todos os pais de filhos com autismo, que aproximem o filho de um animal de estimação. “Enzo não tem amigos: Kim não é apenas um amigo, mas sim o único! Então, quando escuto as gargalhadas, quando vejo seus dedinhos acariciando o pelo, quando vejo as brincadeiras envolvendo corridas e bola, quando entro no quarto e encontro os dois dormindo, me emociono e agradeço a Deus por me permitir encontrar o Joaquim. Se pudesse dar um conselho para a família de um anjinho tão especial: permita que seu filho se desenvolva da maneira mais independente. Permita que encontre e crie laços de amizade. O que seria da nossa história de vida se não houvessem os amigos? Nossos filhos também têm esse direito! Deixe que esse encontro aconteça de forma natural... Quando as pessoas elogiam a atitude de ter resgatado o Kim, respondo que não houve um resgate e, sim, um encontro de dois seres que sentem e expressam o amor na sua forma mais pura!”
A dica da veterinária é de que os pais escolham um cachorro de raça mais dócil, que não tenha energia tão explosiva. “Tem cachorro que é muito bagunceiro, muito agitado, então é legal adquirir uma raça com temperamento menos territorialista, que acabe disputando espaço com a criança. Mas de forma geral, tanto o cão como a criança, o vínculo que eles criam, é de membro da família. A criança tem a tendência de ver o cachorro como um irmãozinho, como um melhor amigo e o cão ele se vê como parte da família, porque na natureza ele vive em grupo, então quando ele está na família, ele considera aquele o grupo dele. Ele estabelece uma hierarquia na cabeça dele, e ele se vê como parte, membro, esse é o vínculo criado”, explicou Mireille.
Terapia sobre os cavalos pode ser um aliado para quem tem autismo. A equoterapia é recomendada para crianças a partir dos dois anos de idade. “A gente trabalha com processos adaptativos e eles transportam para o dia a dia deles. Por exemplo, quando eles começam uma tarefa na escola, se ela está agradável ou não, eles começam a ficar mais tolerantes. Iniciar processos de convivência, igual a gente começa aqui. A maior parte deles tem dificuldade de ficar em uma atividade por muito tempo. O que você faz no ambiente com animal, eles vão reproduzir no dia a dia”, apontou a equoterapeuta Érika Guerrieri.
Segundo a profissional, é preciso ter um cuidado especial na aproximação da criança com os cavalos. “O primeiro contato é muito interessante. Toda vez que eles vão se aproximar do cavalo, por ser um animal muito grande, pode ser assustador. O autista tem medo de tocar, o nariz do animal é mais gelatinoso, o animal movimenta a boca, tem os pêlos. Então quando a criança é muito agitada, habitualmente a aproximação é de cima do animal”.
A relação se estabelece entre criança e cavalo e a partir daí, o autista leva o que ganha com o bicho para a sua vida. “A grande maioria se conecta a um animal e tem até dificuldade de trocar. A partir da interação dos animais, ele aprende a interagir com os outros. Eles passam a ser mais tolerantes, aceitam abraçar. A partir daí começam a olhar mais nos olhos, criam afeição pelos animais e para o dia a dia. A socialização é um dos pontos fortes da equoterapia para autistas”, indicou Érika.
A Érika é equoterapeuta há 17 anos. Há seis, ela se tornou mãe da Ana, que nasceu com autismo. “Vim desconfiando que a minha filha era autista e nesse meio tempo eu fui iniciando o tratamento na equoterapia com autistas. A minha filha é autista de altas habilidades. É uma criança que tem algumas dificuldades, porém ela tem uma inteligência acima da média, ela fala totalmente, tem dificuldades nas tarefas de função executiva”.
A Ana tem medo do tamanho do animal, mas só até o momento que a terapia começa. “Ela morre de medo de subir no cavalo, mas depois que sobe, fica encantada. A equoterapia a ajuda a tomar decisões, planejar tarefas e também na concentração”, contou Érika.
Ter uma filha autista, mudou a forma como a terapeuta lida com a profissão. “É completamente diferente você ser mãe e ser terapeuta de autista. O que mais impactou no meu olhar na verdade foi reforçar essa questão de que cada autista é de uma maneira. Não existe um padrão terapêutico a seguir. A avaliação diária, a tentativa de enxergar a necessidade individual de cada um, ela é muito mais relevante do que o próprio diagnóstico. A construção diária dos planos terapêuticos e o momento que a criança se encontra é fundamental”, explicou.
De acordo com Érika, a filha é ainda mais carinhosa com os animais. “Ela tem a vontade de ver os cavalos se alimentando, leva feno, ração. No início ela tinha dificuldade de tocar, agora ela faz carinho. Ela despertou um carinho muito grande com outras crianças. Ela abraça, beija, olha no olho, chama de 'gracinha'. Ela tem esse lado emocional muito aflorado”, contou a orgulhosa mãe-terapeuta.
Quem ama os animais sempre tem histórias de carinho, amor e cumplicidade com eles. Os pets oferecem amor gratuito e se tornam parte integrante das famílias, e como tal, muitas vezes ajudam as pessoas das mais diversas formas.
Um dos casos em que animais podem ser muito úteis é na socialização de pessoas com autismo. O autismo é definido como o desenvolvimento anormal ou comprometimento da criança, manifesto antes dos três anos, apresentando caraterísticas desse funcionamento anormal na interação social, na comunicação e no comportamento, que se torna repetitivo.
O combate a essa dificuldade na interação social, pode ter os animais como grandes companheiros. "Existem diversos estudos acadêmicos, relacionados ao comportamento das crianças autistas quando tem alguma interação com os animais. Geralmente cães e cavalos”, explicou a veterinária, Mireille Sabbagh.
“Os cavalos eles auxiliam na interação e no reestabelecimento dessas crianças, além de melhorar a comunicação, o convívio social e a consciência cognitiva e sensorial dessas crianças. Com os cães, foi concluído que também atua na auto-confiançae torna a criança mais sociável e interativa com o mundo a sua volta. Então melhora bastante a capacidade de comunicação”, completou.
O dia a dia de atendimento é uma prova dos benefícios que os animais trazem nessas relações. “Na clínica eu vejo dos pais que adquiram um cachorro para criança autista, eles me relatam exatamente isso, que a criança ficou menos ansiosa, melhorou a comunicação, teve menos episódio de crise, e aumentou a confiança, a responsabilidade com outro ser”, relatou Mireille.
Enzo e Kim
O Enzo tem 16 anos. Ele tem o grau mais severo do autismo. Com isso, a interação social sempre foi difícil para ele. Em dezembro, a família resgatou o cachorrinho Joaquim, ou Kim, como é chamado. A partir daí uma relação diferente começou a ser estabelecida entre os dois.
“Encontramos o Kim na porta do nosso condomínio. Estava muito assustado, com medo, frio e fome. Foi no dia 9 de dezembro, na noite de um domingo. Chovia muito nesse dia”, contou Bruna Lages, mãe do Enzo.
“A relação foi construída aos poucos, até por quê meu filho possui o autismo no grau mais severo do transtorno. Enzo não emite uma só palavra, se esquiva de contato físico e outras interações. Por outro lado, Kim encontrava-se traumatizado pelos dias que passou na rua: estava arisco, assustado, desconfiado de tudo e todos. Chorou por semanas, como se procurasse encontrar alguém que um dia o amou. A cada dia que passava, fomos percebendo que os dois estavam se aproximando... Enzo compreendeu a existência do kim e começou a dar sentindo a essa presença”, relatou Bruna.
A mãe credita ao Kim, a evolução em vários aspectos na vida de Enzo, entre elas a interação com a própria família. “Eles tem uma incrível amizade, uma mistura de amor, cumplicidade e fidelidade, surgiu entre Kim e Enzo. Hoje, ninguém pode pegar os brinquedos do meu filho pois corre o risco de ser mordido... se alguém se aproxima de maneira brusca do Enzo, nosso Kim avança a fim de defendê-lo. Constantemente somos surpreendidos por gargalhadas vindas do Enzo em direção ao Kim. A relação entre os dois é carinhosa e livre. O contato se desenvolve de forma natural. Percebi que meu filho interage muito mais quando está ao lado do Kim. Também foi notória a redução do nível de ansiedade e estresse. Em alguns momentos, brincamos de pique pega onde Enzo, Manu [irmã mais nova de Enzo], Kim e eu brincamos pela casa. Esses momentos são criados de acordo com o humor e disposição do meu filho mas, sem dúvida que, a presença do Kim promoveu muito mais interação. Esse cãozinho foi capaz de aproximar mais ainda nosso filho do restante da família”.
A mãe de Enzo recomenda para todos os pais de filhos com autismo, que aproximem o filho de um animal de estimação. “Enzo não tem amigos: Kim não é apenas um amigo, mas sim o único! Então, quando escuto as gargalhadas, quando vejo seus dedinhos acariciando o pelo, quando vejo as brincadeiras envolvendo corridas e bola, quando entro no quarto e encontro os dois dormindo, me emociono e agradeço a Deus por me permitir encontrar o Joaquim. Se pudesse dar um conselho para a família de um anjinho tão especial: permita que seu filho se desenvolva da maneira mais independente. Permita que encontre e crie laços de amizade. O que seria da nossa história de vida se não houvessem os amigos? Nossos filhos também têm esse direito! Deixe que esse encontro aconteça de forma natural... Quando as pessoas elogiam a atitude de ter resgatado o Kim, respondo que não houve um resgate e, sim, um encontro de dois seres que sentem e expressam o amor na sua forma mais pura!”
A dica da veterinária é de que os pais escolham um cachorro de raça mais dócil, que não tenha energia tão explosiva. “Tem cachorro que é muito bagunceiro, muito agitado, então é legal adquirir uma raça com temperamento menos territorialista, que acabe disputando espaço com a criança. Mas de forma geral, tanto o cão como a criança, o vínculo que eles criam, é de membro da família. A criança tem a tendência de ver o cachorro como um irmãozinho, como um melhor amigo e o cão ele se vê como parte da família, porque na natureza ele vive em grupo, então quando ele está na família, ele considera aquele o grupo dele. Ele estabelece uma hierarquia na cabeça dele, e ele se vê como parte, membro, esse é o vínculo criado”, explicou Mireille.
Terapia sobre os cavalos pode ser um aliado para quem tem autismo. A equoterapia é recomendada para crianças a partir dos dois anos de idade. “A gente trabalha com processos adaptativos e eles transportam para o dia a dia deles. Por exemplo, quando eles começam uma tarefa na escola, se ela está agradável ou não, eles começam a ficar mais tolerantes. Iniciar processos de convivência, igual a gente começa aqui. A maior parte deles tem dificuldade de ficar em uma atividade por muito tempo. O que você faz no ambiente com animal, eles vão reproduzir no dia a dia”, apontou a equoterapeuta Érika Guerrieri.
Segundo a profissional, é preciso ter um cuidado especial na aproximação da criança com os cavalos. “O primeiro contato é muito interessante. Toda vez que eles vão se aproximar do cavalo, por ser um animal muito grande, pode ser assustador. O autista tem medo de tocar, o nariz do animal é mais gelatinoso, o animal movimenta a boca, tem os pêlos. Então quando a criança é muito agitada, habitualmente a aproximação é de cima do animal”.
A relação se estabelece entre criança e cavalo e a partir daí, o autista leva o que ganha com o bicho para a sua vida. “A grande maioria se conecta a um animal e tem até dificuldade de trocar. A partir da interação dos animais, ele aprende a interagir com os outros. Eles passam a ser mais tolerantes, aceitam abraçar. A partir daí começam a olhar mais nos olhos, criam afeição pelos animais e para o dia a dia. A socialização é um dos pontos fortes da equoterapia para autistas”, indicou Érika.
A Érika é equoterapeuta há 17 anos. Há seis, ela se tornou mãe da Ana, que nasceu com autismo. “Vim desconfiando que a minha filha era autista e nesse meio tempo eu fui iniciando o tratamento na equoterapia com autistas. A minha filha é autista de altas habilidades. É uma criança que tem algumas dificuldades, porém ela tem uma inteligência acima da média, ela fala totalmente, tem dificuldades nas tarefas de função executiva”.
A Ana tem medo do tamanho do animal, mas só até o momento que a terapia começa. “Ela morre de medo de subir no cavalo, mas depois que sobe, fica encantada. A equoterapia a ajuda a tomar decisões, planejar tarefas e também na concentração”, contou Érika.
Ter uma filha autista, mudou a forma como a terapeuta lida com a profissão. “É completamente diferente você ser mãe e ser terapeuta de autista. O que mais impactou no meu olhar na verdade foi reforçar essa questão de que cada autista é de uma maneira. Não existe um padrão terapêutico a seguir. A avaliação diária, a tentativa de enxergar a necessidade individual de cada um, ela é muito mais relevante do que o próprio diagnóstico. A construção diária dos planos terapêuticos e o momento que a criança se encontra é fundamental”, explicou.
De acordo com Érika, a filha é ainda mais carinhosa com os animais. “Ela tem a vontade de ver os cavalos se alimentando, leva feno, ração. No início ela tinha dificuldade de tocar, agora ela faz carinho. Ela despertou um carinho muito grande com outras crianças. Ela abraça, beija, olha no olho, chama de 'gracinha'. Ela tem esse lado emocional muito aflorado”, contou a orgulhosa mãe-terapeuta.
FONTE: G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário