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4/21/2019

Estúdio na selva: biodiversidade capixaba é registrada em detalhes

Equipamentos fotográficos flagram espécies da fauna local; nitidez e colorido das imagens são carro-chefe do projeto.

O monitoramento de fauna feito por armadilhas fotográficas - também conhecidas por câmeras trap - é comum entre biólogos e admiradores da natureza. Mas um estúdio fotográfico em meio à floresta é novidade.

Idealizado em 2015 por fotógrafos de natureza
do Espírito Santo, o projeto “Biodiversidade Capixaba – Uma expedição ao Espírito Santo Selvagem” conta com registros coloridos e muito detalhados da fauna local.

De acordo com Paulo Roberto, um dos fundadores do projeto, os cliques são ótimas ferramentas para a conservação das espécies. “O objetivo é retratar a biodiversidade capixaba de forma singular, usando a arte fotográfica como instrumento de conscientização e transformação da sociedade”, diz.

Motivados a produzir um conteúdo impactante e inovar na captação de imagens, os fotógrafos investiram em um “estúdio de selva”, com equipamentos capazes de detectar a passagem de um animal e automaticamente disparar a câmera, já configurada para o flagrante.

“Nosso grande desafio é retratar o que ninguém vê, destacando a beleza que percorre todos os dias as nossas matas”, relata Paulo, que comemora os resultados do projeto. “Os estúdios têm ajudado no monitoramento de espécies e trazido informações valiosas para muitos pesquisadores. Nossas fotos já foram usadas em pesquisas, levantamento de fauna e atividades de sensibilização ambiental”, conta.

São essas imagens que sensibilizam e mostram que o que buscamos preservar não é somente ‘mato’, mas uma cadeia riquíssima de vida

Entre os flagrantes feitos em parques e reservas biológicas do Espírito Santo, destacam-se os catetos, espécie de porco selvagem ameaçada de extinção no Estado, e o tatu-de-rabo-mole-grande, raramente observado e pouco estudado.

Quem garante um lugar especial no acervo fotográfico, porém, é a onça-parda. “Na Mata Atlântica elas são muito esquivas e raramente avistadas. Fotografá-las é um grande desafio”, comenta o fotógrafo, que alerta sobre a necessidade de estudar o local previamente para a instalação dos estúdios. “Estudamos todas as áreas em que instalamos os equipamentos e focamos em espécies específicas para montarmos e configurarmos o estúdio da maneira correta”, diz.

Paulo explica que a escolha dos locais é feita após a leitura de artigos científicos e planos de manejo, consulta com especialistas e mapeamento de espécies locais. “Depois disso, vamos até lá para o reconhecimento da área, percorremos trilhas em busca de sinais dos animais e ficamos atentos aos rastros”, completa.

Todo esforço é recompensado pela qualidade dos cliques, um incentivo e tanto para a continuidade do projeto, que até hoje já exigiu um investimento de R$ 150 mil. “É uma sensação maravilhosa de realização. Na primeira vez que testamos o estúdio em campo registramos uma enorme anta, foi uma alegria só”, lembra o fotógrafo, que também destaca o clique de uma jaguatirica.

“A jaguatirica havia realmente parado e posado para várias fotos. Ficamos extasiados com os resultados”, recorda.

Estúdios na floresta

Capazes de funcionar por até dois meses na mata, os quatro estúdios foram desenvolvidos e são mantidos pelos ‘expedicionários’, nome dado aos integrantes do projeto.

Diferente das câmeras trap convencionais, são utilizadas câmeras profissionais ligadas a dois flashes externos, como um verdadeiro estúdio fotográfico.

Para acionar os equipamentos e captar o animal, é necessário ainda um sensor, criado pelos próprios fotógrafos para diminuir os custos do projeto. “Como não tínhamos recursos para comprar sensores importados, que são bem caros, nós mesmos desenvolvemos. Isso aumentou ainda mais a satisfação com o resultado”, comenta.

A qualidade da imagem é resultado das câmeras de alta resolução e dos flashes de qualidade, fundamentais para iluminar bem a cena durante a noite
Todo o aparto técnico, porém, não é suficiente para garantir uma boa foto. “Adicional aos equipamentos, temos a sensibilidade fotográfica, a técnica em si. Estudamos o cenário, pensamos na composição, na iluminação e na regulagem da câmera”, completa o fotógrafo.

Dificultando o trabalho

Caixas de ferro que se camuflam na natureza foram instaladas em cada um dos equipamentos, a fim de manter o estúdio discreto e proteger o material de possíveis furtos.

A iniciativa, porém, nem sempre funciona: ao longo dos anos, dois estúdios foram levados da mata. “Certa vez conseguimos identificar a trilha que uma onça-parda fazia. Ficamos muito empolgados e instalamos um estúdio. Quando voltamos, cheios de esperança de termos feito registros maravilhosos, nossos equipamentos haviam sido roubados”, lembra Paulo, que lamenta a situação.

“A frustração durou meses, não só pelo equipamento, mas pelas fotos que imaginávamos ter feito e nunca saberemos”, diz.

Das lentes para o mundo

Junto aos fundadores Paulo Silva, Fabrício Costa e Vitor Barbosa, outros quatro ‘expedicionários’ se aventuram pelas matas do Estado em busca dos flagrantes.

Mais de 30 mil registros fazem parte do acervo, que futuramente será publicado em um livro de fotografias sobre a natureza e a biodiversidade do Espírito Santo. “Algumas fotos são compartilhadas nas redes sociais ou cedidas para biólogos e instituições voltadas a projetos de sensibilização ambiental e pesquisas”, explica Paulo.



FONTE: G1

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