Você sabe quem mora ao seu lado? Quantidade de tutores não é conhecida pelas autoridades. Assim, um vizinho de porta pode estar criando bichos que deveriam estar nas florestas, sem que ninguém saiba
Em todo o País, existem 320 centros comerciais cadastrados para a venda de animais silvestres criados em cativeiro. O dado é do Ibama, mas não representa a totalidade, pois há estados,
como São Paulo, onde o acompanhamento é feito separadamente.
A coordenadora de monitoramento do uso da fauna do Ibama, Maria Izabel Gomes, observa que, atualmente, a preferência nacional dos criadores é por aves que cantam, como os canários. Na sequência vêm os papagaios e araras, que conseguem aprender a sonorizar palavras. Esses dois grupos representariam 80% de todos os animais silvestres comercializados.
Médico veterinário especializado em pets não convencionais, Matheus Rabello explica que a domesticação desses animais se popularizou à medida em que as informações sobre a forma de criação se tornaram mais acessíveis. Assim, ficou mais fácil aprender a criá-los. Alguns deles, como as cobras, têm uma rotina diária tranquila.
Rabello lembra que, em geral, animais criados em cativeiro por gerações têm dificuldade ou não conseguiriam se adaptar à vida na natureza. “Essa é uma discussão profunda, pois tem muita gente que é contra a manutenção em cativeiro. Mas não se poderia simplesmente soltar o animal. Ele não aprendeu a sobreviver na natureza e já teve seu comportamento adaptado à presença humana”, destaca.
Fiscalização
“Quem compra um animal de um vendedor não autorizado contribui para o tráfico e para a extinção do animal. Dos que são levados a um cativeiro irregular, uma boa parte morre no caminho. A pessoa acha que salva um indivíduo, mas financia a morte de outros”, ressalta Maria Izabel, do Ibama. O infrator pode pegar pena de seis meses a um ano de prisão e multa que varia de R$ 500 a R$ 5 mil.
Aos que ensejam criar os animais de forma segura, ela garante que o processo não é tão difícil: basta comprar de um local legalizado e se preparar para os hábitos deles. O bicho terá nota fiscal e, em geral, um chip para monitoramento.
Habitante diferente dentro de casa
Quem entra na casa do biólogo Feliphe Novais, 28 anos, não vai ouvir latinos nem miados. Muito menos vai escutar passarinhos cantando ou pronunciando alguma palavra aprendida por meio do contato com os humanos. Ali, só vai ter silêncio.
Porém, não se engane. Em um quartinho bem preparado existem os dois xodós da casa: a Gita e o Zanzeta. A primeira é uma jiboia amazônica com sete anos de idade e dois metros de comprimento – podendo chegar a 2,5 metros. O segundo também é uma jiboia, mas é da espécie amazônica arco-íris. Zanzeta tem menos de um ano de vida e mede cerca de 40 centímetros – porém, pode chegar até dois metros.
Sonho realizado
Se para alguns encontrar os dois moradores é motivo de susto, para Feliphe Novais era um sonho antigo. “Sempre tive vontade de criar um animal silvestre, como uma serpente. Sempre admirei e tive fascínio por eles. Eu via muita gente maltratando esses animais e eu notava que eles eram incompreendidos”, alega o jovem.
Boa parte da infância de Feliphe foi vivida em cidade do interior, com muito contato com bichos. Com isso, ele ficou conhecido como um protetor dos animais e já tirou até gavião das mãos de pessoas que o maltratava.
Assim, para poder auxiliar mais os animais silvestres, ele resolveu estudar Biologia. O próximo passo era adquirir um desses animais que faziam seu fascínio. Logo ele encontrou um criadouro legalizado no Pará e viu que seria uma forma de “desmistificar a cultura de que as serpentes são animais do mal”. Ele correu atrás de toda a documentação e conseguiu.
Adaptação
Para a mãe do biólogo, que já estava acostumada com o jeito do rapaz desde a infância, não foi um problema. Já a esposa, Letícia Martins Carvalho, 24 anos, que na época era namorada, estranhou no início, mas depois relevou. Entendeu que era uma paixão antiga e forte. Não tinha jeito. Teve que conviver com a nova moradora. Até que a própria Letícia começou a gostar na nova mascote da casa.
“Quando ela (a Gita) era menor, ela ficava enrolada na minha cabeça por horas. Eu assitia um filme inteiro com ela assim”, relembra a jovem.
Vantagem de manter um pet “não convencional”
Unindo o conhecimento que adquiriu durante a formação profissional e o contato que teve com inúmeros outros criadores, o biólogo Feliphe Novais percebeu que ter um animal silvestre pode até ser diferente de um ter um doméstico, mas que há suas vantagens. Economicamente, o gasto que ele tem com as duas cobras é pequeno.
Nesse caso, não há banho e tosa, vacina ou pelos pela casa. Assim, os gastos com veterinários se restringem a duas visitas anuais para uma espécie de checape. A comida é dada duas vezes ao mês e é composta basicamente de ratos criados especificamente para esse fim. Apesar de haver criadores que dão o rato vivo, ele prefere oferecê-lo morto para que não haja nenhum incidente, como possíveis mordidas em locais sensíveis da cobra.
Comportamento
Como várias gerações dos animais já foram criadas em cativeiros, o comportamento das duas jiboias de Feliphe é considerado mais tranquilo. Ele enfatiza que isso faz toda diferença, já que uma jiboia que vive na natureza teria um comportamento mais assustado e poderia atacar. “Elas são acostumadas com o seres humanos e eu sempre as mantenho da melhor forma possível”, diz.
A Gita e o Zanzeta vivem cada um em seu terráreo, que tem placas térmicas e uma bacia de água para as necessidades térmicas dos animais. Tudo para que os pets se sintam bem na casa.
‘Liberdade’ em cativeiro
O médico veterinário Matheus Rabello alerta que para se ter qualquer animal é preciso se atentar a cinco formas de liberdade para que ele viva bem. Elas são: os animais precisam ser livres de medo e estresse; livres de fome e sede; livres de desconforto; livres de dor e doenças; e ter liberdade para expressar seu comportamento natural.
Para o profissional, se um tutor se atentar a esses fatores, o animal viverá bem.
Casos recentes
Apesar das proibições, tem gente que insiste em criar animais silvestres de forma irregular. No início do mês passado, uma jiboia arco-íris ficou desaparecida por mais de uma semana em um prédio de Águas Claras, deixando moradores apreensivos.
Ela era criada há mais de um ano por um jovem que teria a ganhado da namorada. O animal foi encontrado por moradores no último dia 15 de outubro, depois de mobilização do Batalhão de Polícia Militar Ambiental.
Já no último dia 26, o Batalhão de Polícia Ambiental (BPMA) apreendeu uma outra jiboia que era criada por uma família na QNO 18, de Ceilândia. Quando a PM chegou à casa e questionou o porquê de o animal estar lá, a proprietária informou que teria achado a cobra às margens da BR-070 e pegou para criar.
Nos dois casos, as jiboias eram criadas sem terráreo ou ambiente considerado adequado para elas. Ambos criadores irregulares podem ser multados com valor que varia entre R$ 500 a R$ 5 mil, além de questionamento judicial.
Os animais foram levados para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), do Ibama, para receber tratamento veterinário.
FONTE: jornaldebrasilia
Em todo o País, existem 320 centros comerciais cadastrados para a venda de animais silvestres criados em cativeiro. O dado é do Ibama, mas não representa a totalidade, pois há estados,
como São Paulo, onde o acompanhamento é feito separadamente.
A coordenadora de monitoramento do uso da fauna do Ibama, Maria Izabel Gomes, observa que, atualmente, a preferência nacional dos criadores é por aves que cantam, como os canários. Na sequência vêm os papagaios e araras, que conseguem aprender a sonorizar palavras. Esses dois grupos representariam 80% de todos os animais silvestres comercializados.
Médico veterinário especializado em pets não convencionais, Matheus Rabello explica que a domesticação desses animais se popularizou à medida em que as informações sobre a forma de criação se tornaram mais acessíveis. Assim, ficou mais fácil aprender a criá-los. Alguns deles, como as cobras, têm uma rotina diária tranquila.
Rabello lembra que, em geral, animais criados em cativeiro por gerações têm dificuldade ou não conseguiriam se adaptar à vida na natureza. “Essa é uma discussão profunda, pois tem muita gente que é contra a manutenção em cativeiro. Mas não se poderia simplesmente soltar o animal. Ele não aprendeu a sobreviver na natureza e já teve seu comportamento adaptado à presença humana”, destaca.
Fiscalização
“Quem compra um animal de um vendedor não autorizado contribui para o tráfico e para a extinção do animal. Dos que são levados a um cativeiro irregular, uma boa parte morre no caminho. A pessoa acha que salva um indivíduo, mas financia a morte de outros”, ressalta Maria Izabel, do Ibama. O infrator pode pegar pena de seis meses a um ano de prisão e multa que varia de R$ 500 a R$ 5 mil.
Aos que ensejam criar os animais de forma segura, ela garante que o processo não é tão difícil: basta comprar de um local legalizado e se preparar para os hábitos deles. O bicho terá nota fiscal e, em geral, um chip para monitoramento.
Habitante diferente dentro de casa
Quem entra na casa do biólogo Feliphe Novais, 28 anos, não vai ouvir latinos nem miados. Muito menos vai escutar passarinhos cantando ou pronunciando alguma palavra aprendida por meio do contato com os humanos. Ali, só vai ter silêncio.
Porém, não se engane. Em um quartinho bem preparado existem os dois xodós da casa: a Gita e o Zanzeta. A primeira é uma jiboia amazônica com sete anos de idade e dois metros de comprimento – podendo chegar a 2,5 metros. O segundo também é uma jiboia, mas é da espécie amazônica arco-íris. Zanzeta tem menos de um ano de vida e mede cerca de 40 centímetros – porém, pode chegar até dois metros.
Sonho realizado
Se para alguns encontrar os dois moradores é motivo de susto, para Feliphe Novais era um sonho antigo. “Sempre tive vontade de criar um animal silvestre, como uma serpente. Sempre admirei e tive fascínio por eles. Eu via muita gente maltratando esses animais e eu notava que eles eram incompreendidos”, alega o jovem.
Boa parte da infância de Feliphe foi vivida em cidade do interior, com muito contato com bichos. Com isso, ele ficou conhecido como um protetor dos animais e já tirou até gavião das mãos de pessoas que o maltratava.
Assim, para poder auxiliar mais os animais silvestres, ele resolveu estudar Biologia. O próximo passo era adquirir um desses animais que faziam seu fascínio. Logo ele encontrou um criadouro legalizado no Pará e viu que seria uma forma de “desmistificar a cultura de que as serpentes são animais do mal”. Ele correu atrás de toda a documentação e conseguiu.
Adaptação
Para a mãe do biólogo, que já estava acostumada com o jeito do rapaz desde a infância, não foi um problema. Já a esposa, Letícia Martins Carvalho, 24 anos, que na época era namorada, estranhou no início, mas depois relevou. Entendeu que era uma paixão antiga e forte. Não tinha jeito. Teve que conviver com a nova moradora. Até que a própria Letícia começou a gostar na nova mascote da casa.
“Quando ela (a Gita) era menor, ela ficava enrolada na minha cabeça por horas. Eu assitia um filme inteiro com ela assim”, relembra a jovem.
Vantagem de manter um pet “não convencional”
Unindo o conhecimento que adquiriu durante a formação profissional e o contato que teve com inúmeros outros criadores, o biólogo Feliphe Novais percebeu que ter um animal silvestre pode até ser diferente de um ter um doméstico, mas que há suas vantagens. Economicamente, o gasto que ele tem com as duas cobras é pequeno.
Nesse caso, não há banho e tosa, vacina ou pelos pela casa. Assim, os gastos com veterinários se restringem a duas visitas anuais para uma espécie de checape. A comida é dada duas vezes ao mês e é composta basicamente de ratos criados especificamente para esse fim. Apesar de haver criadores que dão o rato vivo, ele prefere oferecê-lo morto para que não haja nenhum incidente, como possíveis mordidas em locais sensíveis da cobra.
Comportamento
Como várias gerações dos animais já foram criadas em cativeiros, o comportamento das duas jiboias de Feliphe é considerado mais tranquilo. Ele enfatiza que isso faz toda diferença, já que uma jiboia que vive na natureza teria um comportamento mais assustado e poderia atacar. “Elas são acostumadas com o seres humanos e eu sempre as mantenho da melhor forma possível”, diz.
A Gita e o Zanzeta vivem cada um em seu terráreo, que tem placas térmicas e uma bacia de água para as necessidades térmicas dos animais. Tudo para que os pets se sintam bem na casa.
‘Liberdade’ em cativeiro
O médico veterinário Matheus Rabello alerta que para se ter qualquer animal é preciso se atentar a cinco formas de liberdade para que ele viva bem. Elas são: os animais precisam ser livres de medo e estresse; livres de fome e sede; livres de desconforto; livres de dor e doenças; e ter liberdade para expressar seu comportamento natural.
Para o profissional, se um tutor se atentar a esses fatores, o animal viverá bem.
Casos recentes
Apesar das proibições, tem gente que insiste em criar animais silvestres de forma irregular. No início do mês passado, uma jiboia arco-íris ficou desaparecida por mais de uma semana em um prédio de Águas Claras, deixando moradores apreensivos.
Ela era criada há mais de um ano por um jovem que teria a ganhado da namorada. O animal foi encontrado por moradores no último dia 15 de outubro, depois de mobilização do Batalhão de Polícia Militar Ambiental.
Já no último dia 26, o Batalhão de Polícia Ambiental (BPMA) apreendeu uma outra jiboia que era criada por uma família na QNO 18, de Ceilândia. Quando a PM chegou à casa e questionou o porquê de o animal estar lá, a proprietária informou que teria achado a cobra às margens da BR-070 e pegou para criar.
Nos dois casos, as jiboias eram criadas sem terráreo ou ambiente considerado adequado para elas. Ambos criadores irregulares podem ser multados com valor que varia entre R$ 500 a R$ 5 mil, além de questionamento judicial.
Os animais foram levados para o Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas), do Ibama, para receber tratamento veterinário.
FONTE: jornaldebrasilia
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