Assim como os humanos, cães podem apresentar ansiedade, depressão e TOC
Quando Roberta Leão Marins, 33, descobriu que estava grávida de Beatriz, ficou superfeliz. O que a cabeleireira não imaginava era que o primogênito da família não lidaria nem um pouco bem com a novidade. E, à medida que o tempo passava, a situação ia piorando. “Ele estava muito triste. Chegou a um ponto que não queria mais comer. Tive até que alimentá-lo com uma seringa”, conta.
O primeiro filho de Roberta, porém, não era um humano, e sim Popeye, seu cachorro yorkshire. “Ele era uma felicidade só e, de repente, virou outro. Não comia e destruiu o enxoval de Bia. Ele não ligava para as minhas roupas, mas acabava com as coisas dela”, lembra.
Preocupada com a situação, Roberta foi atrás de ajuda: um “psicólogo” para cães. “Fizemos uma sessão igualzinha à de humanos. Contamos toda a história, os problemas... Ele nos ensinou a fazer Popeye sentir que ainda era amado. Não tínhamos mais tanto tempo como antes para ele, mas isso não significava que ele não era mais parte da família”.
Psiquiatria animal
A especialidade procurada por Roberta é conhecida como Etologia Clínica, Zoopsiquiatria ou Medicina Veterinária Comportamental. Ela aborda problemas de comportamento em animais. “É muito parecido com a psiquiatria infantil”, garante o médico veterinário Stéfano Mendes Lima, 40, que há cerca de 10 anos trabalha com Zoopsiquiatria.
O especialista afirma que um profissional da área é necessário todas as vezes em que não há o bem-estar, seja do animal ou das pessoas com quem ele convive. “O primeiro sinal é a mudança de comportamento. Em todos os seres vivos, esse é um indício de que algo não está funcionando bem. Se ele fica mais quieto que o normal, mais agitado...”, diz.
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No caso de Popeye, é possível que, mesmo sem a intenção dos donos, o cão tenha se sentido deixado de lado e desenvolvido uma depressão.
“Muitas vezes, as pessoas querem separar o bebê de animais. Acabam trancando eles em alguma parte da casa ou não deixam que entrem numa área à qual, antes, tinham acesso. Isso é mudar o ambiente deles. Se o bicho é bem tratado e vacinado, vermifugado, a possibilidade dele transmitir uma doença é pouca. É bom que esteja presente para que se sinta parte daquilo”, afirma.
Síndromes
Outros gatilhos podem levar os cães a desenvolver problemas comportamentais. “Um caso comum é a Síndrome da Ansiedade de Separação. O pet pode arranhar a porta, fazer xixi pela casa, rasgar e quebrar objetos”, diz o profissional.
Um estudo feito na Universidade de Bristol, no Reino Unido, concluiu que cachorros que mostram este tipo de comportamento relacionado à separação também parecem ser mais pessimistas de forma geral.
“A pesquisa sugere que pelo menos alguns desses cães podem ter estados emocionais negativos subjacentes. E os donos são encorajados a procurar tratamento para melhorar o bem-estar de seus cães”, escreveu Samantha Gaines, chefe-adjunta do Departamento de Animais de Companhia da Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals (RSPCA).
Outra síndrome que pode ser desenvolvida pelos bichos, a dermatite psicogênica ou dermatite acral por lambedura tem como possíveis causas solidão, ansiedade e até Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). “O cachorro lambe tanto uma área do seu corpo (a pata, por exemplo), que pode ficar sem pelo”, diz Stéfano.
E como o veterinário chega aos diagnósticos? Tenta falar com o máximo de pessoas. “Procuro entender aquela relação. Converso com quem convive com o animal e sabe tudo sobre ele, como e quando o problema começou...”, fala.
O tratamento pode ser desde mudanças de rotina até o uso de remédios, como ansiolíticos e antidepressivos. Com Popeye, foram atividades com a família. Todo o processo aconteceu há oito anos e, na época, foram necessárias dez sessões, divididas em 20 dias.
Deu certo. “Depois de um tempo, ele voltou ao normal. E, quando fiquei grávida de novo, foi superamigável. Não destruiu nada e brincava com o bebê”, lembra Roberta. O valor, no caso de Popeye, ficou em R$ 60 por sessão. "Foi em 2010. Mas soube que o mesmo profissional cobra, hoje, R$ 200", diz Roberta.
No caso de Stéfano, o preço é medido de acordo com uma conversa prévia com o cliente, ao telefone. "Discutimos sobre o animal, se ele mora com outros bichos, sua rotina... E falo com pessoas que também convivem com ele. Já houve casos que não era necessário um tratamento comigo, e sim com um adestrador. Aí, não cobrei".
Apesar de Stéfano não ter um valor tabelado, uma consulta com um especialista em uma das áreas da medicina veterinária custa de R$ 180 a R$ 200.
Sem estímulo negativo
Focadas na área psicológica, algumas empresas de adestramento já desenvolvem abordagens terapêuticas. É o caso da PCS - Adestramento de Cães Salvador.
“Compreendemos as demandas dos animais - como, por exemplo, agressividade, revolta, desobediência, neuroses, latição excessiva... E trabalhamos as aflições e anseios com reprogramação e resignificação do trauma ou experiência negativa que tenha sido a causa”, fala Marco Maynart, especialista em psicologia animal e adestramento.
“Evita-se o uso de submissão, empregada amplamente na maior parte dos adestramentos. As pessoas tendem a tratar superficialmente os problemas de comportamento através de estímulos negativos (como borrifar água no animal, bater ou esfregar o focinho no xixi)”, diz Marco.
“Mas estudos científicos revelam que os animais, quando confrontados, ignorados ou acuados tendem a ficar mais agressivos, desobedientes, revoltados, estressados e ansiosos”.
O valor dos serviços da PCS variam de acordo com o temperamento de cada animal, os objetivos e tipo de tratamento e a disponibilidade do dono do bicho. Para uma estimativa, a empresa informa que é preciso se fazer uma consulta inicial, em que será avaliado e elaborado o programa personalizado de acordo com o pet. No site, há mais informações.
Quando Roberta Leão Marins, 33, descobriu que estava grávida de Beatriz, ficou superfeliz. O que a cabeleireira não imaginava era que o primogênito da família não lidaria nem um pouco bem com a novidade. E, à medida que o tempo passava, a situação ia piorando. “Ele estava muito triste. Chegou a um ponto que não queria mais comer. Tive até que alimentá-lo com uma seringa”, conta.
O primeiro filho de Roberta, porém, não era um humano, e sim Popeye, seu cachorro yorkshire. “Ele era uma felicidade só e, de repente, virou outro. Não comia e destruiu o enxoval de Bia. Ele não ligava para as minhas roupas, mas acabava com as coisas dela”, lembra.
Preocupada com a situação, Roberta foi atrás de ajuda: um “psicólogo” para cães. “Fizemos uma sessão igualzinha à de humanos. Contamos toda a história, os problemas... Ele nos ensinou a fazer Popeye sentir que ainda era amado. Não tínhamos mais tanto tempo como antes para ele, mas isso não significava que ele não era mais parte da família”.
Psiquiatria animal
A especialidade procurada por Roberta é conhecida como Etologia Clínica, Zoopsiquiatria ou Medicina Veterinária Comportamental. Ela aborda problemas de comportamento em animais. “É muito parecido com a psiquiatria infantil”, garante o médico veterinário Stéfano Mendes Lima, 40, que há cerca de 10 anos trabalha com Zoopsiquiatria.
O especialista afirma que um profissional da área é necessário todas as vezes em que não há o bem-estar, seja do animal ou das pessoas com quem ele convive. “O primeiro sinal é a mudança de comportamento. Em todos os seres vivos, esse é um indício de que algo não está funcionando bem. Se ele fica mais quieto que o normal, mais agitado...”, diz.
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No caso de Popeye, é possível que, mesmo sem a intenção dos donos, o cão tenha se sentido deixado de lado e desenvolvido uma depressão.
“Muitas vezes, as pessoas querem separar o bebê de animais. Acabam trancando eles em alguma parte da casa ou não deixam que entrem numa área à qual, antes, tinham acesso. Isso é mudar o ambiente deles. Se o bicho é bem tratado e vacinado, vermifugado, a possibilidade dele transmitir uma doença é pouca. É bom que esteja presente para que se sinta parte daquilo”, afirma.
Síndromes
Outros gatilhos podem levar os cães a desenvolver problemas comportamentais. “Um caso comum é a Síndrome da Ansiedade de Separação. O pet pode arranhar a porta, fazer xixi pela casa, rasgar e quebrar objetos”, diz o profissional.
Um estudo feito na Universidade de Bristol, no Reino Unido, concluiu que cachorros que mostram este tipo de comportamento relacionado à separação também parecem ser mais pessimistas de forma geral.
“A pesquisa sugere que pelo menos alguns desses cães podem ter estados emocionais negativos subjacentes. E os donos são encorajados a procurar tratamento para melhorar o bem-estar de seus cães”, escreveu Samantha Gaines, chefe-adjunta do Departamento de Animais de Companhia da Royal Society for the Prevention of Cruelty to Animals (RSPCA).
Outra síndrome que pode ser desenvolvida pelos bichos, a dermatite psicogênica ou dermatite acral por lambedura tem como possíveis causas solidão, ansiedade e até Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). “O cachorro lambe tanto uma área do seu corpo (a pata, por exemplo), que pode ficar sem pelo”, diz Stéfano.
E como o veterinário chega aos diagnósticos? Tenta falar com o máximo de pessoas. “Procuro entender aquela relação. Converso com quem convive com o animal e sabe tudo sobre ele, como e quando o problema começou...”, fala.
O tratamento pode ser desde mudanças de rotina até o uso de remédios, como ansiolíticos e antidepressivos. Com Popeye, foram atividades com a família. Todo o processo aconteceu há oito anos e, na época, foram necessárias dez sessões, divididas em 20 dias.
Deu certo. “Depois de um tempo, ele voltou ao normal. E, quando fiquei grávida de novo, foi superamigável. Não destruiu nada e brincava com o bebê”, lembra Roberta. O valor, no caso de Popeye, ficou em R$ 60 por sessão. "Foi em 2010. Mas soube que o mesmo profissional cobra, hoje, R$ 200", diz Roberta.
No caso de Stéfano, o preço é medido de acordo com uma conversa prévia com o cliente, ao telefone. "Discutimos sobre o animal, se ele mora com outros bichos, sua rotina... E falo com pessoas que também convivem com ele. Já houve casos que não era necessário um tratamento comigo, e sim com um adestrador. Aí, não cobrei".
Apesar de Stéfano não ter um valor tabelado, uma consulta com um especialista em uma das áreas da medicina veterinária custa de R$ 180 a R$ 200.
Sem estímulo negativo
Focadas na área psicológica, algumas empresas de adestramento já desenvolvem abordagens terapêuticas. É o caso da PCS - Adestramento de Cães Salvador.
“Compreendemos as demandas dos animais - como, por exemplo, agressividade, revolta, desobediência, neuroses, latição excessiva... E trabalhamos as aflições e anseios com reprogramação e resignificação do trauma ou experiência negativa que tenha sido a causa”, fala Marco Maynart, especialista em psicologia animal e adestramento.
“Evita-se o uso de submissão, empregada amplamente na maior parte dos adestramentos. As pessoas tendem a tratar superficialmente os problemas de comportamento através de estímulos negativos (como borrifar água no animal, bater ou esfregar o focinho no xixi)”, diz Marco.
“Mas estudos científicos revelam que os animais, quando confrontados, ignorados ou acuados tendem a ficar mais agressivos, desobedientes, revoltados, estressados e ansiosos”.
O valor dos serviços da PCS variam de acordo com o temperamento de cada animal, os objetivos e tipo de tratamento e a disponibilidade do dono do bicho. Para uma estimativa, a empresa informa que é preciso se fazer uma consulta inicial, em que será avaliado e elaborado o programa personalizado de acordo com o pet. No site, há mais informações.
FONTE: correio24horas
A situação é muito pior quando o dono morre e os parentes não dão atenção ao animal. Nossa, já soube de animal que morreu em depressão por isso. Eles sentem e o sentimento deles é real.
ResponderExcluirTerrível mesmo. Tivemos que arrancar um vaso sanitário para desentalar um cão quando minha avó morreu. Ele se espremeu todo para não comer e beber. Nitidamente desistiu de viver. Foi muito triste e difícil fazer com que reagisse, mas conseguimos.
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