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4/16/2018

O brasileiro já começa a questionar o bem-estar animal do produto que consome

É óbvio que queremos que todos parem de comer os animais, mas, enquanto isto não acontece, algumas ações acabam por diminuir o sofrimento dos animais de abate. Alguns acham que estas ações só atrasam o fim da exploração dos animais de consumo. Eu acho que tudo ajuda para se chegar ao fim... Este fim só acontecerá quando a carne de laboratório custar menos que a autentica animal. Aposto o resto da minha vida nisto!!!!!
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O movimento global por um consumo sustentável chegou definitivamente à cadeia da proteína animal. Os consumidores, cada vez mais bem informados, estão dizendo não para as práticas de manejo que levem sofrimento a bovinos, suínos e aves. Essas cadeias processam globalmente 262,7 milhões de toneladas por ano, e podem enfrentar daqui para frente uma forte barreira comercial, caso se descuidem do tema.

A DINHEIRO RURAL entrevistou, neste mês, o zootecnista José Rodolfo Ciocca, gerente de Agropecuária Sustentável da World Animal Protection, organização não-governamental inglesa que atua em todo o mundo na defesa de qualquer tipo de animal, de cães até elefantes. Desde 2013, a entidade apresenta o relatório anual Benchmark de Negócios do Bem-estar Animal na Fazenda (BBFAW, na sigla em inglês).

DINHEIRO RURAL – Há novidades na edição 2018 do relatório sobre bem-estar animal?
JOSÉ RODOLFO CIOCCA − A novidade é que estamos vendo um grande movimento de empresas comprometidas com investimentos em bem-estar animal. O estudo avaliou 110 empresas de 18 países, ligadas à cadeia de produção e ao comércio de alimentos. No primeiro relatório havia 68 empresas de 12 países. No Brasil, foram avaliadas três empresas: a BRF, a JBS e a Marfrig. Elas estão incorporando mais a política de bem-estar animal. O plano é aumentar cada vez mais o número de empresas avaliadas, especialmente na América Latina e na Ásia.

RURAL − Como as empresas comprovam que estão mudando as suas práticas?
CIOCCA − A comprovação é feita por meio das informações que as companhias divulgam em seus relatórios anuais. Apesar de não ter uma auditoria, o BBFAW desenvolveu uma metodologia bem complexa, com cruzamento de todas as informações, o que evita margem de manobra. A pontuação de uma companhia sobe, à medida que a sua atuação envolve geograficamente outras regiões do mundo. Por exemplo, o McDonald’s. Na Inglaterra, a empresa afirma não usar mais ovos de galinhas confinadas em gaiolas. Mas, no Brasil, a empresa ainda não publicou esse compromisso. Nesse sentido, ela não vai ter uma nota elevada.

RURAL − Pode-se confiar nas informações declaradas?
CIOCCA− Sim, porque essas empresas investem em fiscalizações internas. Uma auditoria feita por outras organizações comprovam que as companhias listadas no relatório estão cumprindo as metas de bem-estar animal. Essas informações acabam constando no relatório.

REVISTA RURAL − Qual foi o nível de classificação das empresas brasileiras?
CIOCCA − A BRF e a JBS foram classificadas no nível dois e a Marfrig, no nível três. O ranking que compõe o relatório parte do nível um, o melhor, ao nível seis, o pior.

RURAL − O que exatamente elas estão fazendo?
CIOCCA − A BRF se comprometeu com a criação de leitoas matrizes livres de gaiolas. Nós estamos desenvolvendo um projeto com a empresa para, aos poucos, ir adotando esse sistema em todas as regiões em que ela atua. A JBS também tem feito a mesma coisa. Então, vejo de forma explícita a evolução da agroindústria brasileira.

RURAL − Qual a repercussão desse tipo de política?
CIOCCA − No caso da BRF, quando se comprometeu com a eliminação das gaiolas na criação de suínos, ela influenciou outras agroindústrias na adoção dessa postura. A proposta da BRF é que os produtores integrados criem soltas metade de seus plantéis de leitoas até 2025. Hoje estão todas em gaiolas. Isso vai significar um salto gigantesco no bem-estar desses animais.

RURAL − Quais são as outras parcerias da World Animal Protection?
CIOCCA − Trabalhamos diretamente com instituições que consigam dar uma base científica para o bem-estar animal. Não é algo abstrato. Estamos desenvolvendo projetos com a Embrapa Suínos e Aves, de Concórdia (SC), incentivando a realização de projetos de criação mais humanitária dos animais. Essa será a demanda do consumidor daqui para frente. Há, também, parcerias com universidades, como a UFRJ, a Unesp e a UEL.

RURAL − Com poucas empresas, como o Brasil é avaliado no relatório?
CIOCCA − Apesar do número pequeno de empresas avaliadas, a pesquisa mostra que o País ocupa uma posição interessante. Isso porque o relatório leva em conta o conjunto de empresas avaliadas, que, no caso do Brasil, são três muito bem posicionadas. Ao contrário dos Estados Unidos, onde foram avaliadas cerca de 30 empresas, com notas variadas. Mas é necessário que o Brasil avance em certas questões. O País está produzindo um animal visando ao bem-estar, mas destinado apenas aos europeus. Por que isso? Na maioria das vezes, o brasileiro nem chega a consumir os produtos vindos desse tido de criação.

RURAL − É preciso inverter essa lógica?
CIOCCA − Sim, porque o brasileiro já começa a questionar o bem-estar animal do produto que consome. As empresas devem se preparar para atender a exigência do consumidor local, pois ele também quer uma proteína animal de qualidade. Isso vai refletir, inclusive, em mais pontos e melhores níveis no ranking.

RURAL − Do ponto de vista do bem-estar animal, como o Brasil pode evoluir?
CIOCCA − Claro que ainda há muito para fazer, mas o Brasil é um grande responsável na produção global de alimentos. Principalmente de proteína animal. Nesse cenário, ele começa a atender uma demanda de perfil de consumidores que são a favor de uma pegada mais ética e pode elevar ainda mais a sua importância na produção de alimentos. O País tem potencial para garantir condições mais naturais de criação, com acesso do rebanho a pasto, luz e ar livre.

RURAL − Para o bem-estar animal, qual é a cadeia produtiva mais crítica?
CIOCCA – São duas, no caso, a de suínos e a de aves. Há três aspectos que identificam seus pontos críticos. Um deles é a longa duração de sofrimento a que um animal pode ficar submetido. O outro é o confinamento extremo e a alta lotação de animais em um mesmo espaço. E não menos importante são as práticas de mutilação. Na avicultura, por exemplo, há casos em que se cortam os bicos das aves. Na suinocultura, há o corte da cauda e dos dentes dos animais. Felizmente, há alternativas para melhorar isso tudo. São medidas que podem garantir uma produção mais sustentável.

RURAL − Que alternativas são essas?
CIOCCA – São métodos simples de bem-estar animal. Se dermos mais condições ambientais aos animais, eles expressam melhor o seu potencial produtivo. Por exemplo, a garantia de fontes de alimentos mais naturais, além de luz e vento. Menos estresse, com uma redução de lotação, pode se refletir em maiores ganhos econômicos na criação.

FONTE: beefpoint

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