Pois é, ainda bem que Campinas pode oferecer estes registro que nos servem de medidas de avaliação das quantas andam os maus-tratos aos animais.
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Foram 200 ocorrências registradas no ano passado, alta de 2,6% em relação a 2016. Mais da metade dos casos ocorreu em residências.
A Região Metropolitana de Campinas (RMC) teve uma denúncia de maus-tratos aos animais à polícia a cada 43 horas no ano passado. Foram 200 denúncias à Polícia Civil no período, o que representa um aumento de 2,6% em relação a 2016, quando houve 195 crimes do tipo relatados ao órgão.
Os dados são da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP). Os maiores aumentos ocorreram em Monte Mor, de 1 para 4 (300%); em Americana, de 11 para 30 (173%); e Itatiba, de 3 para 8 (167%). A região vinha de redução no número de casos nos 12 meses anteriores. Em 2015, foram 222 (no ano seguinte, a queda foi de 12,2%).
Presidente da ONG Associação Amigos dos Animais de Campinas, Sergio Zampieri Pellegrinelli aponta que aumentou o número de solicitações de resgate à entidade. “Não sei se é dificuldade da situação do Brasil, dificuldade econômica, financeira. Vemos que os animais estão ficando mais de lado do que antes. Do outro lado, [há] mais consciência da ala mais jovem, que tá vindo com a consciência um pouco maior”, relatou.
A organização existe há 34 anos e abriga 2,5 mil animais, entre cães, gatos, coelhos, aves, equinos, bovinos, caprinos, entre outros. Seu gasto mensal médio é de R$ 85 mil e a única fonte de renda são doações e verba originada de ações solidárias.
Esfaqueada 12 vezes
Em um dos casos de repercussão recentemente, no dia 9 de março, a cadela Angel recebeu 12 facadas e foi resgatada pela Organização Não Governamental (ONG) LatiCÃO. Presidente da entidade, Fernanda Fabris informou que o quadro de saúde dela melhorou e, após passar por uma segunda etapa de seu tratamento, será castrada e vacinada para ser colocada para adoção.
“Mas a gente não conseguiu ainda nenhuma pessoa pra adotar ela. No dia que a gente pegou um monte de gente ficou empolgada. Aí passa uma semana e as pessoas esquecem né. Quando eu peguei ela, eu consegui o valor do primeiro atendimento dela. A conta da Angel ficou 4 mil reais. Só que agora não entra nem 1 real e ela ainda tem muito pela frente”, lamentou Fernanda.
Ela também aponta problemas na estrutura para apuração do caso. O suspeito de cometer as agressões é um familiar do dono do animal. O filhote de Angel, chamado Alfredo, também foi resgatado. Ele não ficou ferido.
“Na última vez que a gente foi atrás [de saber do andamento na investigação] não tinha chegado nem na mão do delegado. Não tem atenção nenhuma, essa é que é a verdade. O dia que eu fiz o Boletim de Ocorrência da Angel, eu ouvi do escrivão que não ia dar em nada”, afirmou .
Outros casos
Entre outros casos, ela citou um no qual um motociclista chutou um cão e outro no qual outro cachorro apanhava de moradores de uma rua onde ele ficava porque se incomodavam com uma tosse que o animal tinha. A entidade também acolheu 35 gatos tirados da posse de um coronel suspeito de maus-tratos.
“Dos gatos dele, a maior parte pesava 600 gramas, sendo que um gato normal, adulto, pesa de dois a três quilos. O que a gente percebe que tá tendo cada dia mais é um descaso geral. Seja abandono, negligência, maus-tratos. Cada dia menos as pessoas se importam menos com os bichos”, avaliou.
A LatiCÃO existe há um ano e quatro meses, abriga hoje 92 animais em seu gatil ou lares temporários. No período de existência, resgatou mais de 160 bichos e seu gasto médio por mês é de R$ 10 mil. Sua única fonte de renda são as doações e ações solidárias para arrecadação de dinheiro.
Matança
Em outro caso recente, no dia 16 de janeiro uma ONG denunciou um caso de tortura e matança de animais no Jardim Amanda, em Hortolândia. De acordo com a União dos Protetores Independentes (UPI), “por dias ou até meses”, uma pessoa “torturou, mutilou, queimou, estuprou, estrangulou, viscerou e matou dezenas de cães e gatos em uma residência que invadiu”. A ONG classificou como psicopata o responsável pelos crimes. O caso também foi denunciado à Polícia Civil.
Mais da metade em residências
Mais da metade dos casos (107) ocorreram em residências. “Por que geralmente é na residência? Porque é quando a gente consegue constatar né. O agressor é conhecido. Se fosse na rua eu não tenho como constatar quem fez”, analisou Fernanda.
“A pessoa descobre que precisa viajar, quer sair de férias, mas não tem com quem deixar. Prefere abandonar do que deixar com alguém. [A] grande maioria[dos casos] é falta de consciência dos donos”, apontou Pellegrinelli.
Ele alertou para a necessidade de planejamento antes da adoção. “É sempre bonitinho você dar um cachorro pro filho [...] [Mas] no fim, descobre que não consegue dar conta. [...] Pega cachorro que precisa de tosa frequentemente, descobre que não sai barato. Falta, realmente, planejamento”, afirmou.
“A maior parte das pessoas pegam o bichinho achando que é fácil cuidar. Ou porque é bonitinho. Aí começa a dar gastos, vira problema. Ou chega no final do ano, quer viajar. Aí o que faz? 'Vamo botar na rua'. Ou não castra e começa a ter um monte de filhotes. [...] Aí teve um monte de filhote e coloca na rua, né”, reforçou Fabiana.
Penas
Dos 200 registros, 177 foram baseados no artigo 32, da lei federal 9.605, de 1998, por "praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos". A pena prevista é detenção, de três meses a um ano, e multa.
Os demais (23), foram com base no artigo 64 da Lei das Contravenções Penais, por “tratar animal com crueldade ou submetê-lo a trabalho excessivo”. Nesse caso a punição é mais branda: dez dias a um mês de detenção ou multa.
O G1 questionou a Secretaria de Segurança Pública (SSP) sobre os casos citados na matéria e o aumento no número de ocorrências de maus-tratos contra animais, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.