Levar as crianças para se encantar com leões e elefantes no circo pode ser um programa com os dias contados. A Itália e a Irlanda engrossaram a lista dos 42 países que proíbem a exibição de animais nos espetáculos circenses.
A pressão aumenta sobre vizinhos como a França, onde associações
de proteção de animais, veterinários e antropólogos lançaram um apelo para que o governo francês também siga o exemplo.
Na Europa, Bélgica, Áustria, Grécia e Suécia são alguns dos lugares onde não se encontram mais bichos no picadeiro. Na Alemanha e em 15 países do mundo, a proibição é parcial. Em outros casos, são cidades que tomam a iniciativa, como Nova York e Madri.
A prefeitura de Paris, por sua vez, afirma que cabe ao presidente francês tomar uma decisão definitiva, embora 50 cidades do país já tenham banido os circos ditos “tradicionais”. A diretora-geral do Centro Nacional das Artes do Circo, da Rua e do Teatro (ArtCena), Gwenola David, reconhece que essa é uma tendência sem volta. Dos cerca de 450 estabelecimentos franceses, em torno de 150 ainda exibem bichos selvagens.
“Na França, há uma legislação muito completa sobre isso, reforçada em 2011, e que impõe condições drásticas para a apresentação de animais no picadeiro. Mas é claro que, por melhor que sejam, as condições jamais serão as mesmas do que as da natureza”, observa. “Uma jaula sempre será uma jaula e não substitui a liberdade plena.”
Bem-estar não é o foco da fiscalização
A associação Paris Animaux Zoopolis, que milita pelo fim dos animais nos circos da capital francesa, indica que a fiscalização existente é focada no perigo que os bichos representam para os humanos – mas o bem-estar deles é avaliado de maneira superficial.
“Eles são prisioneiros a vida inteira, em condições itinerantes, de cidade em cidade, dentro de uma jaula ou acorrentados. A isso, soma-se a violência do adestramento, que visa submeter e dominar os animais”, afirma a presidente da entidade, Amadine Sanvisens. “Os veterinários que realizam a fiscalização aplicam a lei, e a lei autoriza essa prática nos circos. Eles controlam o tamanho das jaulas e a documentação, mas não observam, por exemplo, os distúrbios de comportamento dos animais.”
Sanvisens garante que é comum os tigres e leões passarem horas a caminhar em círculos e os elefantes a se balançar, indicativos de depressão crônica nessas espécies. Gwenola David nota que o público demonstra sensibilidade a essa realidade, que até pouco tempo atrás era ignorada. Mas não é só entre os espectadores que a situação dos animais incomoda.
Ameaças de morte a circo sem animais
Neste ano, o meio circense francês entrou em polvorosa depois que um dos herdeiros do circo mais tradicional do país, o Bouglione, anunciou que não teria mais animais no seu estabelecimento, o Circo Joseph Bouglione. Desde então, Joseph afirma ter recebido até ameaças de morte dos antigos colegas.
“Podemos dizer que os tempos mudaram. No nosso público, aqui e no mundo, há cada vez mais gente que não suporta mais ver a exploração animal”, constata. “Nós temos a vocação de fazer espetáculos populares, familiares, sem constrangimentos políticos nem morais, por isso não podíamos mais continuar a apresentar animais em vias de extinção.”
Fim da exploração, início da proteção – esse é o objetivo de Bouglione, que planeja abrir um novo circo engajado no respeito à natureza.
“Esse novo circo será ecológico, 100% humano. Não haverá nenhum animal, nem selvagem, nem doméstico. Dez por cento da nossa receita vai ser destinada à proteção dos animais selvagens no seu habitat natural, na Índia, na Tailândia, na África e na América do Sul. Uma parte da ajuda também vai para o nosso parceiro Elephant Haven, o maior santuário europeu para elefantes”, conta.
Conhecedor do meio, onde nasceu e se criou, Bouglione afirma que “menos de uma dezena” dos circos franceses trata os animais adequadamente. Para a maioria, a presença dos bichos funciona apenas como caça-níquel. Ainda assim, a maior parte dos espectadores vai ao circo em busca da experiência com os bichos, explica David.
“Originalmente, quando não existia a TV, ir ao circo era a forma de ver uma parte do mundo, porque as pessoas não tinham a possibilidade de ver os animais exóticos de outra forma. Hoje, uma quantidade imensa de circos contemporâneos propõe espetáculos fantásticos, para todas as idades, e sem animais”, comenta a diretora-geral da ArtCena. “Porém, a especificidade dos circos tradicionais, de ter números com animais, continua a atrair uma boa parte de espectadores, em especial as crianças.”
Para tentar barrar a pressão, os proprietários de circos tradicionais se uniram, pela primeira vez, em um coletivo que tem usado intensamente as redes sociais para proteger o setor. Em campo, os confrontos entre funcionários de circos e militantes a favor de animais têm sido frequentes e já foram parar até na polícia.
A pressão aumenta sobre vizinhos como a França, onde associações
de proteção de animais, veterinários e antropólogos lançaram um apelo para que o governo francês também siga o exemplo.
Na Europa, Bélgica, Áustria, Grécia e Suécia são alguns dos lugares onde não se encontram mais bichos no picadeiro. Na Alemanha e em 15 países do mundo, a proibição é parcial. Em outros casos, são cidades que tomam a iniciativa, como Nova York e Madri.
A prefeitura de Paris, por sua vez, afirma que cabe ao presidente francês tomar uma decisão definitiva, embora 50 cidades do país já tenham banido os circos ditos “tradicionais”. A diretora-geral do Centro Nacional das Artes do Circo, da Rua e do Teatro (ArtCena), Gwenola David, reconhece que essa é uma tendência sem volta. Dos cerca de 450 estabelecimentos franceses, em torno de 150 ainda exibem bichos selvagens.
“Na França, há uma legislação muito completa sobre isso, reforçada em 2011, e que impõe condições drásticas para a apresentação de animais no picadeiro. Mas é claro que, por melhor que sejam, as condições jamais serão as mesmas do que as da natureza”, observa. “Uma jaula sempre será uma jaula e não substitui a liberdade plena.”
Bem-estar não é o foco da fiscalização
A associação Paris Animaux Zoopolis, que milita pelo fim dos animais nos circos da capital francesa, indica que a fiscalização existente é focada no perigo que os bichos representam para os humanos – mas o bem-estar deles é avaliado de maneira superficial.
“Eles são prisioneiros a vida inteira, em condições itinerantes, de cidade em cidade, dentro de uma jaula ou acorrentados. A isso, soma-se a violência do adestramento, que visa submeter e dominar os animais”, afirma a presidente da entidade, Amadine Sanvisens. “Os veterinários que realizam a fiscalização aplicam a lei, e a lei autoriza essa prática nos circos. Eles controlam o tamanho das jaulas e a documentação, mas não observam, por exemplo, os distúrbios de comportamento dos animais.”
Sanvisens garante que é comum os tigres e leões passarem horas a caminhar em círculos e os elefantes a se balançar, indicativos de depressão crônica nessas espécies. Gwenola David nota que o público demonstra sensibilidade a essa realidade, que até pouco tempo atrás era ignorada. Mas não é só entre os espectadores que a situação dos animais incomoda.
Ameaças de morte a circo sem animais
Neste ano, o meio circense francês entrou em polvorosa depois que um dos herdeiros do circo mais tradicional do país, o Bouglione, anunciou que não teria mais animais no seu estabelecimento, o Circo Joseph Bouglione. Desde então, Joseph afirma ter recebido até ameaças de morte dos antigos colegas.
“Podemos dizer que os tempos mudaram. No nosso público, aqui e no mundo, há cada vez mais gente que não suporta mais ver a exploração animal”, constata. “Nós temos a vocação de fazer espetáculos populares, familiares, sem constrangimentos políticos nem morais, por isso não podíamos mais continuar a apresentar animais em vias de extinção.”
Fim da exploração, início da proteção – esse é o objetivo de Bouglione, que planeja abrir um novo circo engajado no respeito à natureza.
“Esse novo circo será ecológico, 100% humano. Não haverá nenhum animal, nem selvagem, nem doméstico. Dez por cento da nossa receita vai ser destinada à proteção dos animais selvagens no seu habitat natural, na Índia, na Tailândia, na África e na América do Sul. Uma parte da ajuda também vai para o nosso parceiro Elephant Haven, o maior santuário europeu para elefantes”, conta.
Conhecedor do meio, onde nasceu e se criou, Bouglione afirma que “menos de uma dezena” dos circos franceses trata os animais adequadamente. Para a maioria, a presença dos bichos funciona apenas como caça-níquel. Ainda assim, a maior parte dos espectadores vai ao circo em busca da experiência com os bichos, explica David.
“Originalmente, quando não existia a TV, ir ao circo era a forma de ver uma parte do mundo, porque as pessoas não tinham a possibilidade de ver os animais exóticos de outra forma. Hoje, uma quantidade imensa de circos contemporâneos propõe espetáculos fantásticos, para todas as idades, e sem animais”, comenta a diretora-geral da ArtCena. “Porém, a especificidade dos circos tradicionais, de ter números com animais, continua a atrair uma boa parte de espectadores, em especial as crianças.”
Para tentar barrar a pressão, os proprietários de circos tradicionais se uniram, pela primeira vez, em um coletivo que tem usado intensamente as redes sociais para proteger o setor. Em campo, os confrontos entre funcionários de circos e militantes a favor de animais têm sido frequentes e já foram parar até na polícia.
FONTE: br.rfi.fr
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