Vejam o que um profissional progressista passa na China.
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Recentemente, um jovem médico chinês foi libertado depois de passar três meses na prisão por alegar que uma determinada marca de vinho medicinal era tóxico e não podia curar doenças cardíacas e artrite, como alegava o fabricante. Tudo começou em dezembro passado, quando o médico de Guangzhou, Tan Qindong, publicou um pequeno artigo sobre a plataforma de mídia social chinesa Meipian, afirmando que o popular vinho medicinal Hongmao não era apenas tóxico, mas também ineficaz no tratamento de doenças cardíacas graves e artrite.
Seu post aparentemente atraiu muita atenção, já que a Hongmao logo entrou com uma ação de difamação contra o médico de 39 anos, alegando que ele havia "desacreditado maliciosamente" a reputação da marca e causado perdas financeiras significativas de 1,4 milhão yuans (770 mil reais).
Em 10 de janeiro de 2018, o desavisado Dr. Tan foi levado de sua casa em Guangzhou pela polícia, para a Mongólia Interior, onde o fabricante de Hongmao está baseado, a 2.300 km de distância, e jogado na cadeia sem ser ao menos julgado.
De acordo com um documento policial, a Hongmao reclamou que o artigo do médico, intitulado "O licor farmacêutico mágico chinês é uma substância tóxica do céu", foi amplamente compartilhado on-line e resultou no pedido de restituição de dois distribuidores farmacêuticos e sete revendedores de vinho medicinal. A polícia considerou o artigo uma prova clara de difamação, então o prendeu. Simples assim.
O Dr. Tan Qindong passou três meses em uma prisão a milhares de quilômetros de distância de casa, e só foi liberado na semana passada, depois que notícias de sua prisão se tornaram virais, provocando polêmica nas mídias sociais chinesas. Advogados, médicos e agências estatais de notícias começaram a perguntar como uma empresa conhecida por exagerar as alegações de publicidade poderia convencer a polícia a prender alguém simplesmente por questionar os benefícios de seu produto.
O vinho medicinal de Hongmao é o principal produto de exportação do condado de Liangcheng, na Mongólia. Ele contém 67 ingredientes vegetais e animais, incluindo ossos de leopardo, e supostamente alivia doenças como dores nas articulações, rins frágeis, fraqueza e anemia em mulheres, bem como ajuda a curar doenças cardíacas. No entanto, isso é apenas de acordo com as teorias da medicina tradicional chinesa, e não foi cientificamente comprovado.
O Dr. Tan foi recentemente libertado da prisão devido a pressões da mídia e do público em geral, mas a investigação ainda não terminou, e seu advogado disse que há a possibilidade de que ele seja preso novamente. Em uma entrevista que deu recentemente, o médico de 39 anos falou sobre o pesadelo de ser preso, mas também deixou claro que não se arrepende de ter escrito o artigo sobre o vinho Hongmao.
- "Honestamente, esse local não era para humanos. Todos os dias eu dormia ao lado do banheiro, todos os dias comia dois pedaços e meio de pão cozido no vapor. Não havia banho de sol, nada...", disse o Dr. Tan sobre sua prisão, acrescentando que chegou a considerar o suicídio.
- "Foi correto escrever este ensaio", disse ele. - "Você deve falar a verdade algumas vezes durante a sua vida e, especialmente, se um médico não falar a verdade e deixar esses anúncios sobre curas milagrosas acontecerem, eles vão causar mais danos ainda a mais pessoas."
Por enquanto, o Dr. Tan Qindong está sendo saudado como um herói, e a Hongmao, a empresa que tentou silenciá-lo, já está sentindo uma reação negativa. Muitas farmácias na China retiraram o vinho medicinal de suas prateleiras para evitar irritar os clientes.
FONTE: mdig