Conferindo.... e pra mim? excelente para reflexão....
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A vida é mais má do que boa, e depois morremos. Daí que o melhor seja não chegarmos a existir. É o que defende David Benatar, guru do antinatalismo e, talvez, o filósofo mais pessimista do mundo. E a extinção, diz à VISÃO, deveria alastrar-se a todos os animais sencientes
A felicidade é efémera. A tristeza pode não ser. O sofrimento é o que de mais certo temos na existência – isso e a morte, que é a fonte final e mais extrema de sofrimento. Mas poucos de nós perdem tempo a pensar nos prós e contras de viver. Afinal, a vida ultrapassa a crueza contabilística do deve e haver.
E daí talvez não. Os antinatalistas advogam que, feitas as contas, a vida não vale a pena ser vivida. David Benatar, diretor do departamento de Filosofia da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, escreveu dois polémicos livros a concluir precisamente isso – Better Never to Have Been: The Harm of Coming Into Existence e Debating Procreation: Is It Wrong to Reproduce? (em tradução livre: Melhor Nunca Ter Sido: o Mal de Existir e Debatendo a Procriação: A Reprodução É Um Erro?). Obras que se tornaram as bíblias do antinatalismo.
“No decorrer de uma vida inteira, o saldo de viver é negativo. Só o facto de morrermos é uma coisa má na vida. Quando entramos na existência, estamos condenados à morte. Se não chegarmos a existir, não enfrentamos esse destino, tal como nenhum outro”, diz Benatar, em entrevista por Skype (sem imagem, uma vez que o filósofo recusa-se a dar a cara, razão pela qual também pede para que não sejam publicadas fotos suas).
David Benatar usa um diagrama para justificar o antinatalismo: num ser que existe, há dor, o que é mau, e há prazer, o que é bom; na não existência, não há dor, o que é bom, e não há prazer, o que não é mau. E assim, efetivamente, a decisão pende a favor da não existência. “Quando falo de dor e prazer, estou a referir-me a exemplos de coisas boas e más na vida. O que a simetria mostra é que, independentemente do rácio de coisas boas e más, haverá sempre uma desvantagem líquida para a existência. Por exemplo, dor crónica: não há prazer crónico. Ou se pensarmos quão depressa podemos perder o conhecimento adquirido devido a um golpe na cabeça ou um AVC, e o compararmos com o tempo que demoramos a adquirir esse conhecimento. As piores dores da vida são muito mais intensas do que os melhores prazeres.”
Ser-se antinatalista não significa adotar o suicídio como opção. “Há um tempo e um lugar para o suicídio, mas não é uma recomendação que eu faça. É melhor não chegarmos a existir, mas isso não significa que, a partir do momento em que existimos, é melhor deixarmos de existir. O antinatalismo não é pró-morte”, salienta Benatar. E não é, continua, porque a morte é uma causa de dor, não só para quem morre mas também para quem sente a perda de um ente querido. “Essa é uma das razões por que não devemos precipitar-nos. Quando alguém está num ponto extremo, quando a dor é insuportável, o suicídio justifica-se, ainda que a sua morte signifique coisas más para outros. Mas isso não se aplica em circunstâncias comuns.”
HOMEM, CÃO, GATO, ETC.
Não há aqui, neste antinatalismo, uma preocupação ambiental, como a que está por trás do Movimento Voluntário de Extinção Humana, um grupo ecologista fundado nos EUA, em 1991, que defende a extinção do Homem para salvar o planeta. David Benatar tem uma premissa puramente humanitária, sem motivações externas (o planeta é equação que não entra nas suas contas), no sentido de impedir o sofrimento de cada um. De certa forma, o seu entendimento é o oposto do que faz mexer esse grupo ecologista – idealmente, todos os seres com capacidade para sentir, incluindo os animais, cessariam de se reproduzir e extinguir-se-iam, evitando o sofrimento de gerações futuras.
“Os meus argumentos adequam-se a toda a vida senciente. Devemos esterilizar alguns animais, como os animais de companhia: cães, gatos. É mais complicado quando falamos de animais selvagens, porque há custos em intervir. Imaginemos que os esterilizamos pondo contracetivos na água que leões e tigres bebem; se não tiver efeito nas suas presas, poderemos ter muitos animais que, em vez de morrerem às garras dos predadores, morreriam à fome, porque devido ao seu número acabariam com a comida. Às vezes, quando os humanos intervêm, tornam as coisas piores do que estavam. Portanto, ainda que, por princípio, defenda que não deva haver mais seres sencientes, não quer dizer que devemos ir ao terreno eliminar a vida selvagem, porque o mais certo é sermos malsucedidos e ficar tudo pior.”
Sendo utópico (na perspetiva de Benatar, entenda-se) pensar que a vida senciente desaparece amanhã, o filósofo sugere alguns caminhos para minimizar o sofrimento – nomeadamente o sofrimento associado à indústria da carne. “Defendo o veganismo. Na verdade, muitos antinatalistas são veganos. Nem sempre, mas há uma perfeita correlação. Se estivermos motivados para reduzir o sofrimento, tanto o antinatalismo como o veganismo fazem parte desse caminho.” Claro que essa redução do sofrimento implica uma redução do prazer – o prazer de comer carne –, mas este será mais um caso em que a dor do animal sacrificado é inegavelmente mais intensa do que a satisfação proporcionada por um bife, por mais suculento que seja.
O EGOÍSMO DE TER UM FILHO
A revista New Yorker descreve David Benatar como o filósofo mais pessimista do mundo. O professor sul-africano não concorda nem deixa de concordar – é indiferente ao epíteto enquanto medida absoluta para descrever alguém. “Sou pessimista sobre alguns temas, não sobre outros. O pessimismo não é uma perspetiva má ou boa. É apenas a forma como refletimos as perspetivas da realidade. Não estou pessimista sobre as minhas possibilidades de sobreviver até amanhã. É provavelmente verdade que amanhã de manhã acordo. Mas, se me perguntar sobre as minhas hipóteses de viver até aos 120, estou pessimista sobre isso, porque não é provável. Sou pessimista onde julgo que o pessimismo é justificável.”
O realismo esclarecido de Benatar estende-se às limitações do ser humano para minimizar o seu próprio sofrimento: o filósofo reconhece avanços (“Há 200 anos, éramos operados sem anestesia…”), mas não crê que algum dia será possível controlar a dor ao ponto de valer a pena nascer. “O desprazer é uma parte integrante da vida senciente. Nunca atingiremos o ponto em que toda a dor é negligenciável. Até porque, além da dor física, há a dor psicológica.”
Entre os grandes prazeres, poucos haverá que ombreiem com o momento em que nasce um filho. E essa é a razão, assegura, por que a reprodução é eminentemente um ato egoísta, de busca de felicidade sem considerar a felicidade alheia. “As pessoas não estão conscientemente a ser egoístas. Mas ao decidirem ser pais não estão a fazer favores ao seu filho. De uma forma geral, é errado criar novos seres, porque não estão a ser levados em conta os interesses desse ser.”
E o interesse desse ser é não nascer. Pode haver, no entanto, exceções a esse egoísmo. “Pais que já têm um filho, e não querem que essa criança seja filho único. Querem um irmão que lhe faça companhia. Nesse caso, estão a ser parcialmente motivados por altruísmo a favor da criança que já existe, para que ela tenha um companheiro. Por isso não digo que nunca haja um elemento altruísta na procriação.”
“AOS MEUS PAIS, APESAR DE…”
Imaginemos que a visão de David Benatar se torna dogma e é posta em prática: a humanidade decide a sua extinção, através de uma esterilização em massa (indolor, de preferência). É garantido que a geração final, ao chegar à velhice, teria um fim miserável, sem qualquer apoio de uma classe mais jovem que a sustentasse. “Reconheço que sofreria determinados fins que não sofreria em condições normais”, admite. “Não haveria agricultores jovens a produzir comida para os idosos, não haveria polícia a manter a ordem, não haveria cangalheiros a enterrar os mortos.”
Mas esse não é fundamento suficiente para abandonar o sonho de terminar com a vida. “Mais tarde ou mais cedo, a humanidade vai acabar. E haverá uma última geração que sofrerá um fim terrível, de uma forma ou de outra. O que nós temos hoje, a reprodução para evitar este destino, é aquilo a que chamo procriação em esquema de pirâmide. Cada geração está a produzir crianças para que a sua geração não seja a última. Mas tudo o que se faz é passar o problema para a geração seguinte, e daí para a outra. Em algum ponto, a pirâmide vai desmoronar-se.”
O filósofo sul-africano parece ter pensado em tudo. Até nas implicações religiosas de se ser, na essência, antivida. “É possível ser-se um antinatalista religioso. Já conheci gente que o é. Há várias formas de conciliar as duas coisas. Os shakers, por exemplo, são uma seita cristã que não acredita na reprodução [fazem um voto de celibato]. Claro que, por causa disso, são uma seita minúscula, porque vão morrendo e a única forma de se regenerarem é através dos convertidos.”
Há até um elemento central de muitos pensamentos religiosos perfeitamente compatível com o antinatalismo: a predestinação. “Se acreditarmos que Deus já decidiu o destino de cada alma, e se acreditarmos que o destino dessa alma será um mau destino, quando mais não seja devido ao pecado original, temos um excelente motivo para não querer que essa pessoa nasça. Dito isto, os meus argumentos não se apoiam no facto de coincidirem ou não com os pontos de vista religiosos. São indiferentes a essa perspetiva.”
Poder-se-ia dizer que Benatar é o único ateu que concorda com os crentes quando estes dizem que, quando alguém morre, “vai para um lugar melhor”. Mas não. “Sim, a pessoa que morreu foi aliviada do sofrimento. Mas a morte é má. Não por sentirmos algo após a morte, mas sim no sentido de que a pessoa que existiu antes da morte sofreu um mau destino. Que foi privada de uma coisa.” Ainda que essa coisa – a vida – seja mais má do que boa.
David Benatar admite que não acredita em Deus, mas essa é a única pergunta pessoal a que responde. O filósofo não quer que a sua vida privada se intrometa na argumentação. Considera-a irrelevante. Pretende que o discurso valha por si, sem contaminações. Percebe-se que é vegano, e portanto, até certo ponto, pratica o que prega. Mas fica por se saber se tem filhos. A única referência pessoal que se lhe conhece é a dedicatória do livro Melhor Nunca Ter Sido: o Mal de Existir: “Aos meus pais, apesar de me terem trazido ao mundo.
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A vida é mais má do que boa, e depois morremos. Daí que o melhor seja não chegarmos a existir. É o que defende David Benatar, guru do antinatalismo e, talvez, o filósofo mais pessimista do mundo. E a extinção, diz à VISÃO, deveria alastrar-se a todos os animais sencientes
A felicidade é efémera. A tristeza pode não ser. O sofrimento é o que de mais certo temos na existência – isso e a morte, que é a fonte final e mais extrema de sofrimento. Mas poucos de nós perdem tempo a pensar nos prós e contras de viver. Afinal, a vida ultrapassa a crueza contabilística do deve e haver.
E daí talvez não. Os antinatalistas advogam que, feitas as contas, a vida não vale a pena ser vivida. David Benatar, diretor do departamento de Filosofia da Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul, escreveu dois polémicos livros a concluir precisamente isso – Better Never to Have Been: The Harm of Coming Into Existence e Debating Procreation: Is It Wrong to Reproduce? (em tradução livre: Melhor Nunca Ter Sido: o Mal de Existir e Debatendo a Procriação: A Reprodução É Um Erro?). Obras que se tornaram as bíblias do antinatalismo.
“No decorrer de uma vida inteira, o saldo de viver é negativo. Só o facto de morrermos é uma coisa má na vida. Quando entramos na existência, estamos condenados à morte. Se não chegarmos a existir, não enfrentamos esse destino, tal como nenhum outro”, diz Benatar, em entrevista por Skype (sem imagem, uma vez que o filósofo recusa-se a dar a cara, razão pela qual também pede para que não sejam publicadas fotos suas).
David Benatar usa um diagrama para justificar o antinatalismo: num ser que existe, há dor, o que é mau, e há prazer, o que é bom; na não existência, não há dor, o que é bom, e não há prazer, o que não é mau. E assim, efetivamente, a decisão pende a favor da não existência. “Quando falo de dor e prazer, estou a referir-me a exemplos de coisas boas e más na vida. O que a simetria mostra é que, independentemente do rácio de coisas boas e más, haverá sempre uma desvantagem líquida para a existência. Por exemplo, dor crónica: não há prazer crónico. Ou se pensarmos quão depressa podemos perder o conhecimento adquirido devido a um golpe na cabeça ou um AVC, e o compararmos com o tempo que demoramos a adquirir esse conhecimento. As piores dores da vida são muito mais intensas do que os melhores prazeres.”
Ser-se antinatalista não significa adotar o suicídio como opção. “Há um tempo e um lugar para o suicídio, mas não é uma recomendação que eu faça. É melhor não chegarmos a existir, mas isso não significa que, a partir do momento em que existimos, é melhor deixarmos de existir. O antinatalismo não é pró-morte”, salienta Benatar. E não é, continua, porque a morte é uma causa de dor, não só para quem morre mas também para quem sente a perda de um ente querido. “Essa é uma das razões por que não devemos precipitar-nos. Quando alguém está num ponto extremo, quando a dor é insuportável, o suicídio justifica-se, ainda que a sua morte signifique coisas más para outros. Mas isso não se aplica em circunstâncias comuns.”
HOMEM, CÃO, GATO, ETC.
Não há aqui, neste antinatalismo, uma preocupação ambiental, como a que está por trás do Movimento Voluntário de Extinção Humana, um grupo ecologista fundado nos EUA, em 1991, que defende a extinção do Homem para salvar o planeta. David Benatar tem uma premissa puramente humanitária, sem motivações externas (o planeta é equação que não entra nas suas contas), no sentido de impedir o sofrimento de cada um. De certa forma, o seu entendimento é o oposto do que faz mexer esse grupo ecologista – idealmente, todos os seres com capacidade para sentir, incluindo os animais, cessariam de se reproduzir e extinguir-se-iam, evitando o sofrimento de gerações futuras.
“Os meus argumentos adequam-se a toda a vida senciente. Devemos esterilizar alguns animais, como os animais de companhia: cães, gatos. É mais complicado quando falamos de animais selvagens, porque há custos em intervir. Imaginemos que os esterilizamos pondo contracetivos na água que leões e tigres bebem; se não tiver efeito nas suas presas, poderemos ter muitos animais que, em vez de morrerem às garras dos predadores, morreriam à fome, porque devido ao seu número acabariam com a comida. Às vezes, quando os humanos intervêm, tornam as coisas piores do que estavam. Portanto, ainda que, por princípio, defenda que não deva haver mais seres sencientes, não quer dizer que devemos ir ao terreno eliminar a vida selvagem, porque o mais certo é sermos malsucedidos e ficar tudo pior.”
Sendo utópico (na perspetiva de Benatar, entenda-se) pensar que a vida senciente desaparece amanhã, o filósofo sugere alguns caminhos para minimizar o sofrimento – nomeadamente o sofrimento associado à indústria da carne. “Defendo o veganismo. Na verdade, muitos antinatalistas são veganos. Nem sempre, mas há uma perfeita correlação. Se estivermos motivados para reduzir o sofrimento, tanto o antinatalismo como o veganismo fazem parte desse caminho.” Claro que essa redução do sofrimento implica uma redução do prazer – o prazer de comer carne –, mas este será mais um caso em que a dor do animal sacrificado é inegavelmente mais intensa do que a satisfação proporcionada por um bife, por mais suculento que seja.
O EGOÍSMO DE TER UM FILHO
A revista New Yorker descreve David Benatar como o filósofo mais pessimista do mundo. O professor sul-africano não concorda nem deixa de concordar – é indiferente ao epíteto enquanto medida absoluta para descrever alguém. “Sou pessimista sobre alguns temas, não sobre outros. O pessimismo não é uma perspetiva má ou boa. É apenas a forma como refletimos as perspetivas da realidade. Não estou pessimista sobre as minhas possibilidades de sobreviver até amanhã. É provavelmente verdade que amanhã de manhã acordo. Mas, se me perguntar sobre as minhas hipóteses de viver até aos 120, estou pessimista sobre isso, porque não é provável. Sou pessimista onde julgo que o pessimismo é justificável.”
O realismo esclarecido de Benatar estende-se às limitações do ser humano para minimizar o seu próprio sofrimento: o filósofo reconhece avanços (“Há 200 anos, éramos operados sem anestesia…”), mas não crê que algum dia será possível controlar a dor ao ponto de valer a pena nascer. “O desprazer é uma parte integrante da vida senciente. Nunca atingiremos o ponto em que toda a dor é negligenciável. Até porque, além da dor física, há a dor psicológica.”
Entre os grandes prazeres, poucos haverá que ombreiem com o momento em que nasce um filho. E essa é a razão, assegura, por que a reprodução é eminentemente um ato egoísta, de busca de felicidade sem considerar a felicidade alheia. “As pessoas não estão conscientemente a ser egoístas. Mas ao decidirem ser pais não estão a fazer favores ao seu filho. De uma forma geral, é errado criar novos seres, porque não estão a ser levados em conta os interesses desse ser.”
E o interesse desse ser é não nascer. Pode haver, no entanto, exceções a esse egoísmo. “Pais que já têm um filho, e não querem que essa criança seja filho único. Querem um irmão que lhe faça companhia. Nesse caso, estão a ser parcialmente motivados por altruísmo a favor da criança que já existe, para que ela tenha um companheiro. Por isso não digo que nunca haja um elemento altruísta na procriação.”
“AOS MEUS PAIS, APESAR DE…”
Imaginemos que a visão de David Benatar se torna dogma e é posta em prática: a humanidade decide a sua extinção, através de uma esterilização em massa (indolor, de preferência). É garantido que a geração final, ao chegar à velhice, teria um fim miserável, sem qualquer apoio de uma classe mais jovem que a sustentasse. “Reconheço que sofreria determinados fins que não sofreria em condições normais”, admite. “Não haveria agricultores jovens a produzir comida para os idosos, não haveria polícia a manter a ordem, não haveria cangalheiros a enterrar os mortos.”
Mas esse não é fundamento suficiente para abandonar o sonho de terminar com a vida. “Mais tarde ou mais cedo, a humanidade vai acabar. E haverá uma última geração que sofrerá um fim terrível, de uma forma ou de outra. O que nós temos hoje, a reprodução para evitar este destino, é aquilo a que chamo procriação em esquema de pirâmide. Cada geração está a produzir crianças para que a sua geração não seja a última. Mas tudo o que se faz é passar o problema para a geração seguinte, e daí para a outra. Em algum ponto, a pirâmide vai desmoronar-se.”
O filósofo sul-africano parece ter pensado em tudo. Até nas implicações religiosas de se ser, na essência, antivida. “É possível ser-se um antinatalista religioso. Já conheci gente que o é. Há várias formas de conciliar as duas coisas. Os shakers, por exemplo, são uma seita cristã que não acredita na reprodução [fazem um voto de celibato]. Claro que, por causa disso, são uma seita minúscula, porque vão morrendo e a única forma de se regenerarem é através dos convertidos.”
Há até um elemento central de muitos pensamentos religiosos perfeitamente compatível com o antinatalismo: a predestinação. “Se acreditarmos que Deus já decidiu o destino de cada alma, e se acreditarmos que o destino dessa alma será um mau destino, quando mais não seja devido ao pecado original, temos um excelente motivo para não querer que essa pessoa nasça. Dito isto, os meus argumentos não se apoiam no facto de coincidirem ou não com os pontos de vista religiosos. São indiferentes a essa perspetiva.”
Poder-se-ia dizer que Benatar é o único ateu que concorda com os crentes quando estes dizem que, quando alguém morre, “vai para um lugar melhor”. Mas não. “Sim, a pessoa que morreu foi aliviada do sofrimento. Mas a morte é má. Não por sentirmos algo após a morte, mas sim no sentido de que a pessoa que existiu antes da morte sofreu um mau destino. Que foi privada de uma coisa.” Ainda que essa coisa – a vida – seja mais má do que boa.
David Benatar admite que não acredita em Deus, mas essa é a única pergunta pessoal a que responde. O filósofo não quer que a sua vida privada se intrometa na argumentação. Considera-a irrelevante. Pretende que o discurso valha por si, sem contaminações. Percebe-se que é vegano, e portanto, até certo ponto, pratica o que prega. Mas fica por se saber se tem filhos. A única referência pessoal que se lhe conhece é a dedicatória do livro Melhor Nunca Ter Sido: o Mal de Existir: “Aos meus pais, apesar de me terem trazido ao mundo.
FONTE: visao
Concordo, David, você não faz falta nessa Terra em obras, cheia de poeira e tapumes, em plena Era de Reforma em que vivemos. Com exceção de você, todos os terráqueos vieram com um plano de trabalho, o problema é que alguns pisaram na bola e fizeram da vida uma lambança só, mas você cara, nasceu pelo avesso e enquanto a gente aqui come o pão que o diabo amassou, arrastando um trem de problemas, tentando resolvê-los à custa de suor, superação e sangue, você faz a anti propaganda da vida, dá as costas para Deus, para as estrelas, para as flores, para o sol, para o sorriso das crianças, para o amor dos animais, para a alegria de ser justo e bom e perde a chance de ter nascido mudo pra não falar tanta besteira, porque melhor do que viver é ter nascido para fazer os outros felizes, menos você que não quer nem faz questão pois riscou o próprio nome da lista da Felicidade na hora de receber e ser grato pelo presente de cada abençoado NOVO DIA.
ResponderExcluirAdorei conhecer o filósofo David Benatar, ele não é pessimista, ele é realista. Teve a coragem de abrir os olhos, ver, e difundir a verdade : a vida é sofrimento para todos os seres sencientes, a felicidade é uma ilusão criada por nós humanos, para aguentar viver. Meu nome é Regina, gostaria de ter meu nome publicado, mas não está dando certo.
ResponderExcluirConcordo com ele. Muito especialmente quanto aos animais que temos como domésticos. As pessoas por egoismo, necessidades pessoais várias desejam ter seres a seu dispor para companhia. Castração é a solução. Domesticação animal é abuso !!
ResponderExcluirAcho esse autor muito corajoso. Admiro-o. Nunca entendi esse frenesi das pessoas em querer ter filhos a todo custo, às vezes até pagando caríssimo por um tratamento. Concordo com o que ele diz: "A reprodução é eminentemente um ato egoísta." As pessoas fazem filhos, em princípio, por vaidade, para ver sua própria imagem e semelhança perpetuada na Terra. E a Terra não aguenta mais sustentar/alimentar tanta gente. Haja vista a problemática da fome na África. E não é justo matar animais para saciar a fome dos humanos. Ou todo mundo deveria ser vegano ou ninguém deveria mais fabricar filhos. Mas isso nunca vai acontecer. Os que não concordam com o autor podem ficar tranquilos.
ResponderExcluirQuando falo como esse homem, dizem que sou louca, insensível, antissocial, etc. Quando digo que é melhor não nascer do que sofrer nesse mundo, especialmente quem é da classe mais baixa ou quem não sabe criar, eu é que sou radical. Quando pergunto o que será dos filhos deles quando a alimentação e a água começarem a faltar num mundo carregado de gente inútil, eles apelam pra religião.
ResponderExcluirQuem é o egoísta?